DE ONDE MENOS SE ESPERA...

Certa vez, publiquei uma crônica em coluna que eu assinava num jornal, aqui da cidade onde moro, intitulada “Ditos, Feitos e Memoráveis” dos nossos alunos, numa alusão bem humorada à conhecida obra do filósofo Xenofonte, que cuidava dos “ditos, feitos e memoráveis” de Sócrates.

Constituía-se, portanto, de uma pequena compilação de disparates, daqueles que qualquer professor já ouviu em sala de aula e de que todos já ouviram falar alguma vez. Reproduzi algumas dessas “tiradas” hilárias, embora em número muito menor do que aquelas que coleciono. Razão pela qual penso em voltar ao mesmo tema, qualquer dia desses.

Lembrando daquele besteirol desenfreado, divertimo-nos todos, docentes da ativa e aposentados, alunos e ex-alunos. Só que, depois da última risada, a rapaziada me fez uma cobrança:

— E sobre os disparates que os professores dizem durante as aulas, ninguém escreve nada?

É claro que sim, meus filhos! E eu posso até perder a amizade dos meus colegas; mas jamais perderia esta oportunidade. Porque, cá prá nós, tem docente por aí que não fica nada a dever — em matéria de parvoíce — aos alunos mais desconchavados.

Alguns, para dizer a verdade, criam em torno de si um verdadeiro folclore, tal a quantidade de “abobrinhas” que são capazes de produzir. E, o pior de tudo, é que a moçada não só percebe, no ato, o disparate que acabou de ser pronunciado pelo “catedrático”, como (também e principalmente) sai pelo colégio inteiro a divulgar a boa nova. Deste modo, não há recuperação possível para o combalido conceito do intelectual em questão.

Foi isto o que aconteceu, por exemplo, quando aquele professor de Física, tentando divagar um pouco sobre o conteúdo que trabalhava, disse para a classe:

— O atrito pode ser bom ou ruim. Senão, vejamos: se eu tiver um atrito com algum de vocês, isto seria péssimo...

E sobre a 3ª Lei de Newton (a da ação e reação), criou as seguintes pérolas:

— Se eu der um soco em você, logicamente haverá uma reação... Mas se eu der um soco numa parede de “aucatex”, a reação será menor... Se o Mike Tyson der um soco em mim, eu agüentarei melhor, porque tenho certa infraestrutura ...

Noutra aula, perorando sobre Arquimedes, tentou melhorar a imagem do gênio de Siracusa:

— Essa história de que Arquimedes saiu nu pela rua, gritando Eureka! Eureka! é pura lenda. Logicamente ele estava, no mínimo, usando uma toalha...

E tem algumas de um certo professor de Matemática, que repreendeu uma de suas alunas, porque a jovem estava escrevendo, enquanto ele dava uma explicação qualquer:

— Carmelita, presta atenção na aula!

— Mas professor, justificou-se a garota, eu estou fazendo o exercício!

— Eu sei, concluiu o “asinino”. Mas você tem dois ouvidos: um para mim e outro para o seu livro!

Acontece que nesses embates absurdos, às vezes o obtuso acaba levando a pior, como naquela aula de Química, em que um desses folclorísticos professores advertiu o aluno:

— Pare de falar e faça o exercício! Lembre-se, rapaz, que você é um animal pensante!

Ao que o aluno respondeu:

— Eu sei, professor. E esta é a diferença entre nós...

Quem me contou, disse que o colega levou uns cinco minutos para fazer a turma parar de rir.

Há coisas que professores dizem na sala de aula, sem nem se darem conta da enorme bobagem que estão cometendo:

— O “Fusca” foi inventado durante a guerra e, por causa do seu “radiador a ar”, pode rodar sem problemas pelos “desertos da Europa”.

— O telefone, como todos sabem, tem dois fios: um para falar e outro para ouvir.

— O Sol passa, às vezes, entre a Terra e a Lua. É por isto que ocorre o eclipse...

Alguns poderão não acreditar, mas todas essas asneiras realmente foram ditas por profissionais que ganham a vida por intermédio da nobre função do magistério. Tem essas e tem muitas outras mais. Pois foi, talvez, pensando em coisas assim, que o Barão de Itararé, um jornalista debochado da primeira metade do século passado, certa vez escreveu:

“De onde menos se espera, dali mesmo é que não sai nada!”

Dou por visto, os professores que ele teve... Com todo o respeito que a classe merece!