PRETENSA CRÔNICA DE CARNAVAL


         
               Não vou colocar meu bloco na rua, mas espero que abram alas que eu quero passar – para o jardim florido de amor e saudade – e descobrir por que a jardineira está tão triste. Aí, quando eu souber, eu vou para Maracangalha levando a bandeira branca e pedindo a tristeza que, por favor, vá embora. Afinal quem sabe, sabe, conhece bem, como é gostoso gostar de alguém, por isso eu fiz tudo para você gostar de mim...

               Ei! Você ai... Não, não quero um dinheiro ai (afinal o que já sumiu de dinheiro neste país, não deve ter sobrado nenhum), só quero avisar que cachaça não é água não e, eu só quero pedir para que não bebas até cair, afinal viemos do Egito e, embora meu cabelo não negue que sou mulata – na cor e na alma (nada de ter a alma cor de anil) – sei que as águas vão rolar e garrafas cheias, tenho certeza, não vão sobrar, mas quero mesmo é olhar a estrela D´alva que no céu desponta, deixando a lua tonta com seu esplendor, mas não quero fazer como o Pierrô apaixonado – que vivia cantando – e acabou chorando pela colombina.

               E chega de preconceito, deixemos de implicar com o cabelo do Zezé e perguntar será que ele é? Mas será que ele é bossa nova? Melhor tentar descobrir aonde o velho vai, ele diz que vai lá pra companhia, que tem reunião da diretoria, mamãe desconfia, mas, não sabe aonde ele vai. Se um dia ela descobre, coitadinho do papai!

               Não vou ficar olhando o cordão de puxa-sacos, prefiro dançar com você, ô balancê, balancê e mesmo não sendo a filha da Chiquita Bacana, nunca entro em cana, porque sou família demais, puxei à mamãe e saio na turma do funil, onde todo mundo bebe, mas ninguém dorme no ponto, afinal nós temos bananas, bananas para dar e vender e o que eu quero é que você não se perca de mim, não desapareça.

               Para me fazer feliz neste carnaval você só precisa cantar baixinho para mim: linda morena, morena, morena que me faz penar, a lua cheia que tanto brilha, não brilha tanto quanto o teu olhar... 

               
E, na quarta-feira de cinzas, enquanto todo mundo tá de ressaca, ressaca, ressaca eu – que sou a principal redatora do "Correio do Amor" – escrevo um artigo de sensação que será um furo em qualquer diário, afinal teu nome é cabeçalho extraordinário, serão dez milhões trazendo a música que cantarei para você:

 
Se o azul do céu escurecer
E a alegria na terra fenecer
Não importa, querido, viverei do nosso amor
Se tu és o sol dos dias meus
Se os meus beijos sempre foram teus
Não importa, querido o amargor das dores desta vida
Um punhado de estrelas no infinito irei buscar
E aos teus pés esparramar
Não importa os amigos, risos, crenças e castigos
Quero apenas te adorar
Se o destino então nos separar
Se distante a morte te encontrar
Não importa, querido, porque morrerei também
Quando enfim a vida terminar
E dos sonhos nada mais restar
Num milagre supremo
Deus fará no céu eu te encontrar
(hino do amor, de Dalva de Oliveira)

 
Nota da autora: todo o texto foi construído com adaptação livre de letras das marchinhas dos carnavais passados (Chiquinha Gonzaga, Ary Barroso, Braguinha, Caetano Veloso, Benedito Lacerda, Dorival Caimy, hianto de Almeida, Carmem Miranda, João Roberto Kelly, Jota Sandoval, Lamartine Babo, Moacyr Franco, Noel Rosa, Roberto Martins, Zé da Zilda, Dalva de Oliveira). 



 


 

Ângela M Rodrigues O P Gurgel
Enviado por Ângela M Rodrigues O P Gurgel em 21/02/2009
Reeditado em 09/02/2018
Código do texto: T1451037
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