O FOLIÃO

Este ano, desfilando em homenagem aos seus cinquenta anos e aos cem anos do Internacional, a Imperadores do Samba levou para à avenida gente que nunca havia pisado um Sambódromo.

O Luisão teve vontade de ir e resolveu deixar a vontade passar. Em Porto Alegre o Sambódromo foi escondido no Porto Seco, bem longe do Centro, uma decisão que achou equivocada e tem certa implicância em ir lá.

Verdade se diga que nunca foi um participante de bloco ou escola de samba na capital, exceto quando certa vez aconteceu que quase foi. Corriam os anos oitentas e uns amigos, muito jovens, muito vibrantes, cheios de energia, convenceram o Luisão a desfilar numa escola que naquele ano, como parece que vai acontecer de novo este ano, caiu para o segundo grupo.

Tudo se encaminhava bem. Foi a alguns ensaios na quadra, que ficava próxima do Centro, adquiriu a fantasia, subiu e desceu o morro sem problema algum. Explico. Deram-lhe o endereço da costureira e ele foi, subiu e desceu o Morro da Cruz, de noite, pela esburacada rua principal, assim de propósito pois naqueles tempos, diziam, a polícia não subia o Morro da Cruz. Acontece que ele não sabia que aquele era o Morro da Cruz. O anjo da guarda protege os inocentes.

No dia do desfile, pela manhã, recebeu parte da fantasia de romano com a qual desfilaria, uma coisa parecida com um vestido, que seria dividido pelo cinto, que não veio, com aquela coisa esvoaçante às costas, parecida com a capa do Superman, e a sandália, 41, dois números menores que havia pedido. Faltaram também os adereços de cabeça, pescoço, punhos e tornozelos. Os complementos seriam entregues na concentração.

Passou o dia espichando a sandália, botou aquela coisa “lindinha” que lhe deram para vestir, que ficava mais distorcida por uma não muito saliente mas identificável barriga que havia ganho nos últimos meses, e foi ao sambódromo que ficava perto, no Centro, de táxi, que uma coisa é passar vergonha, mas só o necessário, pensava.

Na concentração, nem chapéu, nem adereços de cabeça, nem cinto, nada para pulso, tornozelo, pescoço, a ala estava toda desfalcada e nenhum dos figurantes adequadamente vestido. Propunham que saíssem no meio de outras alas. Resolveu voltar para o apartamento e assistir ao carnaval na TV.

Como tudo que está ruim pode ficar pior, ao deixar a concentração, contrariado de ter sido enganado e naquela indumentária ridícula, pisando de leve que a sandália estava apertando, procurava um táxi para se esconder e sair logo dali quando um garotinho, bem seguro pela mão do pai, observou:

- Olha, olha pai, ...

... além de tudo, grávida!