MUITO MAIS COMPLICADO!

Parece incrível, mas ainda há quem tenha medo de adotar os computadores como instrumento de trabalho e de lazer. E para estes, as tais “maquininhas” parecem um inabordável “bicho de sete cabeças”, quase assemelhadas ao que significavam os livros de Júlio Verne, nos tempos de antigamente: a mais pura obra de ficção científica.

Mas o que se pode fazer, num país onde muita gente ainda acredita que a chegada do homem à Lua foi uma simples armação da Globo? Só que, no caso dos computadores, com a velocidade que eles estão assumindo o comando das operações, no nosso dia a dia, habituar-se ao seu uso é muito mais do que uma simples opção; é uma necessidade crescente e imperiosa.

De minha parte, confesso que, durante um longo tempo, mantive uma relação de respeitosa distância com esse netinho (ou bisneto, sei lá!) da minha querida e boa máquina de escrever eletrônica, que sempre considerara o suficiente para as minhas necessidades profissionais e pessoais. Achava que essa coisa de computador era para o uso das mais recentes e futuras gerações.

Mas os novos tempos e a absoluta necessidade de acessar a um terminal de computador para quase tudo, na vida moderna, acabaram por convencer-me que eu não poderia continuar desconhecendo essa fabulosa tecnologia. E, muito menos, dispensar o seu uso.

Por isto é que, há bem mais de uma década, fui um dia fazer um cursinho, que me ensinasse o básico, para o manejo adequado de um micro, seus programas e recursos. Juntei-me a outros que, como eu, nada sabiam dessa coisa misteriosa. E lá fomos nós, tal como Alice, adentrar o País das Maravilhas.

A turma era de uma heterogeneidade só. Tinha de tudo e de tudo se via. Mas numa coisa, pelo menos, ela estava bem uniformizada: metade dela, não sabia nada; a outra, não sabia droga nenhuma de informática. Mas devo dizer que havia no grupo uns tipos que se destacavam dos demais. Como aquela participante do tipo gostosa (deixando perceber uns traços de “já fui melhor”), aquele nordestino que tratava o equipamento como se fosse um jegue, um outro tipo, tão apatetado, que nem sei como conseguia encontrar a porta de entrada da sala e aquela outra, tão burra que merecia ter sido exibida em alguma EXPOSIÇÃO AGROPECUÁRIA, na Seção dos Equinos. Só para citar alguns.

Animais alinhados na pista, foi dada a largada para essa corrida fantástica, rumo ao desconhecido. A nossa professora, muito solícita, respondia às indagações e dúvidas — por vezes, tolas ou primárias — com a maior paciência. E começou por algumas explicações de ordem técnica.

Descobrimos que PC não significa necessariamente Paulo César, que DRIVE não é o lugar onde você assiste a um filme sem sair do carro e que RAM e ROM não são bichinhos que irritam a sua garganta. Aprendemos sobre BITS e BYTES, MENU (que nada tem a ver com o cardápio dos restaurantes), BARRAS DE ROLAGEM (nem pensar em academia de ginástica), etc., etc., etc. E quando chegou a hora de ir para a prática, o “frisson” foi indisfarçável.

Todos procuravam entrar no espírito do curso, cada qual dentro de suas possibilidades. Tanto é que, quando alguém reclamou que a sala estava abafada e a professora pediu que “ajustassem o termostato”, a tal participante burra, sem entender do que se tratava (e não para gracejar), perguntou, ante o espanto de todos:

— E que tecla eu aperto para isto?

Entramos no Windows e experimentamos as delícias de jogar paciência no monitor. Alguns aprenderam bem rápido; outros levaram tempo, até entender a mecânica do jogo. Hora e meia depois, quando terminou a aula, aquela mesma anta gritou feliz que acabara de encontrar o ícone do jogo de paciência.

Na aula seguinte, outras novidades e mais informações interessantes. Novos “macetes” e outra sessão de exercícios nos terminais. Mas, na medida em que começávamos a utilizar novos recursos, alguns participantes iam tendo maiores dificuldades. A “meio gostosa”, por exemplo, ia ficando mais atrapalhada com aquele monte de informações.

Pois, ao contrário do que deveria estar acostumada, não bastava cruzar as pernas e olhar de um certo jeito, para resolver os problemas com o equipamento. No momento de usar o disquete (sim, porque ainda se usava disquete, na época desse curso!), enrolou-se toda. E o nordestino, com aquela sutileza que o caracterizava, sentado próximo a ela, ainda tentou ajudar, dizendo baixinho:

— Posso formatar o seu disco?

Prá que, meu Deus?! Prá que? A “meio gostosa”, entendeu que estava sendo assediada, perdeu as estribeiras e despejou desaforo no paraibano:

— Qual é, cara?! O que é que você está pensando? Me respeita que eu sou casada!! O meu marido dá dois "enter" por noite e sem "clicar" nenhuma vez! Se eu contar em casa sobre a sua saliência, ele "deleta" você com um "aplicativo" só! E além do mais, "drive" onde mamãe passou talco, vagabundo nenhum vai encostar o "disco rígido"!

Usou, como se vê, todo o vocabulário do curso que acabara de incorporar ao seu e, antes que o nordestino, atordoado, tentasse salvar a situação (salvar como...?), a “quase boa”, mudando de lugar, arrematou:

— Se manda prá outra "janela", palhaço!!

Enquanto isto, já no final da última semana de aula, a burrona conseguia, finalmente, abrir o jogo de paciência. Agora era só aprender a jogar. Mas isso já seria muito mais complicado!