Marcha Soldado, cabeça de papel.

¨Marcha soldado cabeça de papel.

Se não marchar direito,

Vai direto pro quartel!¨

Ah, que saudade que tenho de um tempo que não volta mais!

As crianças brincavam de soldados. Como fantasias elas, precisavam de um chapéu feito de qualquer pedaço de papel:papel de embrulho, de caderno, de revista, de jornal.

Não precisavam de armas, porque esses soldados eram diferentes. Não matavam e não feriam ninguém. Também não precisavam de armas para fazer valer a lei.

Esses soldados sabiam marchar. Marchavam pelo prazer do brincar. O próprio brincar inspirava boas lembranças nos adultos que os observavam.

Esses soldados eram diferentes dos soldados que marcham na senda do crime. Soldados que estão marchando sob o comando de alguém que deixou de ser um soldado cabeça de papel.

Quanto aos soldados que ainda sabem brincar, estão sob o comando da própria imaginação, e ainda não perderam a capacidade de crer num mundo de sonhos. Um mundo que é colorido, mas isso não ocorre por causa das drogas. Dessas, eles não precisam.

Marchem soldados, continuem marchando! Marchem direito com ou sem chapéu, pois assim poderão marchar de cabeça erguida. Muitas pessoas nunca estarão com vocês pelo temor, mas pelo amor.

Marchem soldados! No amanhã não haverá certeza de fama, sucesso, acesso aos grandes desse mundo, porém sempre haverá alguém lembrando-se de vocês pelas marcas de suas pisadas.

Enquanto escrevo esse texto, me vem uma lembrança, que me leva à escrever sob forte emoção.

"Lembrei de um soldado, cabeça de papel. Salário mínimmo, família grande, jornada de trabalho extensa, longas horas em condução apertada. A' sorte' lhe sorriu... É que esse soldado achara um bolão de dinheiro. Era a sua salvação. Mas, esse soldado era diferente; marchava direito, marchava no caminho da justiça.

Foi até uma delegacia e entregou o que não lhe pertencia. Alguém o chamou de 'trouxa, bestalhão, biscoitado, louco, idiota, leso'...Porém ninguém podia avaliar o prazer que esse soldado sentira quando entregara o dinheiro.Não haveria tesouro nesse mundo que pudesse comprar a satisfação do dever cumprido.

Mas em algum lugar, o seu gesto ecoou... Alguém ouviu a história. Era outro soldado, cabeça de papel.Chamou os amigos. Um pedido lhes fez: "Contribuam com o que puderem até que o valor seja igual ou maior do que o que foi encontrado". Quando conseguiu, viajou para conhecer de perto o outro companheiro de marcha, e após um caloroso abraço, transmitiu-lhe seu recado:

- Seu gesto falou ao meu coração!

E ali, sob forte emoção passou às mãos calejadas daquele soldado que através do seu marchar pôde enviar uma mensagem que irá continuar ressoando onde houver um soldado de valor.

Esse soldado não recebeu uma recompensa, mas sim uma justa homenagem de pessoas anônimas que ainda sabem reconhecer os passos de quem marcha direito.

Ione Sak
Enviado por Ione Sak em 26/02/2009
Reeditado em 27/03/2012
Código do texto: T1459119
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