O BATOM E A TESOURA

Pelo título, até parece que eu escreveria uma Fábula, pois as fábulas não são somente histórias onde os personagens são animais, mas também seres inanimados, passando assim a ser chamada de apólogo. Mas não será isso. O assunto é outro. Na verdade seriam dois objetos comuns, não fosse a importância que tiveram no discurso de Lula aos prefeitos eleitos, semana passada. Em sua fala ele lançou: “Cortaremos o batom da dona Dilma e meu corte de unhas (leia-se manicure), mas nada cortaremos do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC)”. Nossa, até pelo batom da Dilma e pela manicure do Presidente pagamos?! Mas enfim, sempre com tiradas originais, metáforas esquisitas, este é o nosso Presidente. Talvez a manicure até faça um descontinho, afinal, um dedo a menos... Bem, brincadeiras à parte, o fato é que o presidente coloca o PAC para enfrentar a crise, aliás, crise esta que ele insiste em dizer que estávamos imunes. Sim, claro, enquanto todo o mundo afunda na crise, nós, brasileiros, estamos livres!! Perdoem-me, mas, como diria o presidente: “conversa pra boi dormir!”. Claro que a crise nos pegou, isto é óbvio. O que dizer das inúmeras demissões no início deste ano, montadoras lotadas de carros, quase que pedindo pelo amor de Deus para que os compremos, preços que se elevam para compensar perdas e por aí vai... Na verdade, o discurso teve sim um tom político eleitoral, apesar de ele dizer que não e dizer também que a imprensa foi implacável ao afirmar que o encontro seria como que um “pacote de bondades”, para alavancar a candidatura da Ministra Dilma Rousseff à presidência em 2010. Enfim, a gente sempre sabe que há interesses políticos de todas as formas e se o presidente tem seu candidato preferido, não seria diferente. Pensando bem, voltemos à Fábula. É mais interessante! A história poderia até ser assim: Era uma vez um reino distante, onde viviam um Batom e uma Tesoura. Eles eram muito amigos, estavam sempre juntos, faziam planos para o futuro. Um dia a Tesoura, que era muito poderosa no reino, chamou o Batom para uma conversa: – Batom, um dia eu partirei e você terá que assumir meu lugar! O Batom todo entusiasmado, pulou de alegria e disse: - Pode deixar meu soberano, farei tudo direitinho como o senhor mandar. E o Batom, muito vaidoso e se achando um pouquinho gasto, tratou logo de fazer uma plástica, ficando novinho em folha, para receber o novo cargo. Mas a Tesoura logo o alertou: -Prepare-se Batom, você terá muitos concorrentes, pois muitos neste reino querem ocupar o meu lugar. Talvez a maquiagem não seja a melhor estratégia!

Se é que a história pode ter uma moral, até poderia ser esta: “Estejamos sempre atentos amigo leitor, pois batom em embalagem bonita, nem sempre presta!”.

Crônica publicada no jornal VOZ DA TERRA, da cidade de Assis, em 24/02/2009