QUEM PRECISA DOMINAR O IDIOMA?

Um escritor não precisa ser um doutor em Língua Portuguesa, mas por consequência um escritor escreve ou precisa escrever bem; já um estudioso da Língua Portuguesa não necessariamente será um escritor. Sabemos que muita gente escreve bem, outros escrevem mal e assim cada um com seus argumentos e seus motivos para escrever conforme escreve. Alguns profissionais realmente acreditam que não precisam escrever (bem) ou até mesmo conhecer bem o idioma. Um de meus antigos professores, certa vez, relatou o caso de uma aluna do ensino médio que fez uma queixa na escola acusando-o de não se expressar bem. Ele simplesmente alegou ser professor de desenho e, que portanto, não precisaria “falar” corretamente. Desde os meus tempos de estudante observei muitos professores que faziam mau uso da Língua Portuguesa, e deixo claro que não estou falando dos professores da própria Língua Portuguesa; e mesmo estes são seres humanos limitados como todos nós e não estão livres do erro.

Não sou do tipo que fica notando “errinhos”, ou vendo um grande mal em cometer erros, mas realmente me chamam atenção os erros grosseiros. E como estava dizendo, percebi muitos professores que escreviam mal e outros que uma vez ou outra, por um descuido qualquer cometiam algum errinho besta. É claro que isso é natural, todo mundo erra; nem todos têm “mania de perfeição”.

Recentemente estive observando algumas comunidades de matemática no site de relacionamentos Orkut e, o interessante é que a maioria dos integrantes destas comunidades são professores ou estudantes de matemática. Uma coisa me chamou a atenção por lá: a forma como escrevem os professores e os estudantes. A maioria, e posso dizer isso com total segurança; quem duvidar de mim que entre nas comunidades e veja com os próprios olhos; a maioria comete erros absolutamente grosseiros. Não estou falando de erros bobinhos de digitação, estou falando de erros de concordância verbal, ortografia, enfim, erros mesmo. Tudo bem, são professores de matemática; seus alunos lhes farão perguntas de matemática e não a respeito da Língua Portuguesa. Da mesma forma posso dizer que os professores de História, Geografia, Biologia, Química e das demais disciplinas serão responsáveis por transmitir conhecimentos específicos das suas disciplinas e não da Língua Portuguesa, portanto, não terão obrigação alguma de escrever ou expressarem-se bem e, sendo assim, estarão livres para cometer erros à vontade já que nunca serão cobrados por isso. Concluindo: o fato de não ser um profissional da Língua Portuguesa isenta qualquer pessoa dos erros que venha a cometer. Será?

Esses professores de matemática que eu mencionei, realizam vários debates em suas comunidades a respeito da situação do ensino, queixam-se de que hoje em dia os alunos entram na Internet e pesquisam facilmente em um site qualquer e simplesmente copiam as respostas para seus trabalhos escolares. Eles se queixam de que os alunos aparecem em suas comunidades pedindo auxílio ou até mesmo exigindo a resposta de um determinado problema; queixam-se que ao postar perguntas na Internet os alunos facilmente encontram quem as resolva (quanto a esta questão do ensino tratarei do assunto em outra crônica). Assim, eles questionam se a facilidade que os estudantes possuem de obter respostas não estará contribuindo para o fracasso do ensino. Eu, particularmente não creio nisso, pois entendo que o ensino como o conhecemos já fracassou há muito tempo. Mas o que eu quero dizer com tudo isso? Quero dizer que estes professores estão preocupados se os alunos estão realizando seus trabalhos ou se estão simplesmente os copiando, como se antes do advento da Internet os estudantes não fizessem puras cópias diretamente dos livros. Mas e então eu pergunto: Como foi que estes professores, que questionam a cópia, estudaram a Língua Portuguesa? Por que será que eles deixam de lado conceitos tão básicos e cometem erros absolutamente grosseiros? Será que por terem mais afinidade com as suas próprias disciplinas foram deixando de lado a Língua Portuguesa, limitando-se apenas a fazer cópias de seus deveres? Pois que mal há em demonstrarem a seus alunos que cometem erros tão absurdos e grosseiros assim como os próprios alunos o fazem? Então, se todos estão isentos, se estão livres para errar (talvez o termo correto não seja “errar”, mas ignorar as regras) e falo de erros grosseiros mesmo; a quem resta a obrigação de escrever e falar bem? Apenas a nós escritores e aos professores de Língua Portuguesa? E assim, caindo toda a responsabilidade sobre nós, o que acontece com aquele que por um distúrbio de atenção cometer um erro besta, podendo ser até mesmo um simples erro de digitação? Que fiquemos nós aqui buscando o aperfeiçoamento na escrita enquanto aos demais profissionais isso nem faz diferença?

Eu admito, cometo erros o tempo todo e não escrevi este texto para dar uma de bom escritor que domina o idioma; até mesmo porque jamais estive satisfeito com a forma como escrevo e, é por isso que busco aperfeiçoá-la; não só eu, mas todos aqueles que se dedicam a escrever. E o que impede as outras pessoas de também buscarem este aperfeiçoamento? E o que vemos fazer estes que estariam livres para errar? Nada! Como eu já disse, as circunstâncias alegam que eles estão livres de qualquer culpa.

Todos nós precisamos nos comunicar, todos nos utilizamos da Língua Portuguesa e, se precisamos dela, por que não fazer um esforço para escrever bem? Ninguém é obrigado a ter em mente a forma correta de escrever todas as palavras, mas todo mundo sabe o que é um dicionário e, sendo assim, acho que toda a pessoa que deseja se comunicar com outra através da escrita bem que poderia fazer o pequeno esforço de utilizá-lo; principalmente os professores, já que se trata de um livro fácil de ser manuseado e de grande utilidade. Alunos são preguiçosos? Não gostam de ler? Não gostam de estudar? Preferem colocar a culpa nos professores? É o que vejo os professores dizerem o tempo todo, mas o que me parece é que estes professores não se preocupam ao menos em ter um dicionário guardado na gaveta da escrivaninha. Por que eu estou dizendo tudo isso? Porque vejo pessoas com diploma de curso superior que não conseguem escrever uma única frase corretamente; que cometem erros que seriam aceitáveis se fossem cometidos por uma criança de dez anos de idade! O Presidente Lula, por exemplo, sempre foi criticado por não possuir um diploma de curso superior, e a forma como ele fala já foi até motivo de piada. E aí pergunto: O Presidente Lula possui baixa escolaridade? E os semi-analfabetos diplomados, o que dizer deles? Eles estão em todas as áreas; na saúde, no direito, na educação, na engenharia, etc. É isso mesmo, em todas as áreas! Inclusive em áreas onde é fundamental a comunicação através da escrita. Não vejo diferença na forma de nosso Presidente se expressar do que da grande maioria dos brasileiros, inclusive aqueles com nível superior.

Algo que em minha opinião prejudica a escrita de muitas pessoas é o “Internetês”, essa linguagem falada na Internet. Muitos escritores afirmam não ver mal algum nela, eu a acho abominável porque cria vícios desnecessários; acho difícil alguém praticá-la sem desenvolver estes vícios, e mais difícil ainda será livrar-se deles. O Internetês se reflete na escrita de seus praticantes a todo o momento, independente de onde escrevem, tornando-se um meio de fazer abreviações e nem sempre agilizando a escrita. Por hábito, o usuário desta linguagem não consegue fazer distinção e, a aplica mesmo em uma redação escolar. Os adeptos desta linguagem desenvolverão maus hábitos sem necessidade alguma. O pior de tudo é que aqueles que mais se utilizam desta linguagem são aqueles que ainda nem aprenderam o bom “Português”. Os estudantes que já saíam das escolas com deficiências na Língua Portuguesa, agora aliam estas defiências a vícios desnecessários; mas isto já é assunto para uma outra crônica.

Eu ressalto a minha preocupação em escrever bem. A linguagem escrita é a preferida de muitas pessoas, dos tímidos por exemplo; é o meu caso. Se não fosse pela escrita eu estaria provavelmente condenado a não me expressar com clareza e, pelo o que sei, este é o caso da maioria dos escritores. O que relato aqui não é a dificuldade que algumas pessoas possuem com o nosso idioma, mas é a crença que elas possuem de que não há motivo algum para escreverem bem. Acho que quem tem alguma preocupação em escrever bem nunca estará satisfeito com a forma como escreve. Alguns acreditam que o importante é se comunicar; outros acreditam que o importante é se comunicar bem. Como eu já disse, cada um com seus motivos para escrever conforme escreve.

Provocador
Enviado por Provocador em 28/02/2009
Reeditado em 28/02/2009
Código do texto: T1462274
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