MULHER GOZADORA TAVA ALÍ!

O tempo passa depressa e a vida passa numa rapidez incrível. Pulamos da infância para a adolescência e da juventude para a maturidade, em verdadeiros saltos com varas. E quando nos damos conta, parece que já estamos próximos de contornar a curva derradeira e entrar na reta final. Uma corrida, aliás, na qual ninguém parece muito interessado em romper a fita de chegada no primeiro lugar.

Paralelamente a isto, há presunções ou ideias preestabelecidas que não parecem mudar, ao longo do tempo, com igual rapidez. E algumas dessas ideias ou preconceitos dizem respeito às pessoas que se descasam, pela separação, pelo divórcio ou pela viuvez.

Desde que me entendo por gente, ouço mulheres dizerem as mesmas coisas, sobretudo, as separadas ou divorciadas. Porque as viúvas costumam ser mais retraídas em relação a essa natureza de assunto. Que homem acha que mulher descasada está sempre disponível, que precisa da ajuda de algum caridoso para enfrentar suas carências... Enfim, que mulher sozinha tem mais é que “prestar serviços de natureza eventual, sem vínculo empregatício”, àqueles bondosos e solícitos cavalheiros, que as encontram em bares e restaurantes, aos grupos, querendo exercer o sagrado direito de sair e divertir-se.

Reclamam mais: que passam a ser discriminadas nos ambientes e reuniões em que a maioria dos presentes seja de casais e que, até as antigas amigas, passam a conviver com elas demonstrando algum desconforto. Não estão reclamando sem motivo: isto acontece mesmo! Mas o que muitas não sabem é que isto não acontece só com as mulheres. Os homens descasados também são vítimas de alguns preconceitos e de ideias equivocadas.

O primeiro desses equívocos está em pensar que eles saem do casamento feito uns animais no cio e loucos para cruzar com todas as fêmeas disponíveis no mundo. O segundo, é que estão muito a fim de entrarem num outro relacionamento imediatamente. E o terceiro, é que ficarão gratíssimos se algum “caridoso” — embora isto seja uma tendência mais feminina do que masculina — ajudá-los a encontrar uma nova parceira, para namoro ou amizade.

Ora, o final de um casamento, exceto para os inconsequentes, para os leves de espírito, costuma ser um processo complicado na vida de uma pessoa, por mais que a separação seja inevitável. E quem passa por isto, tem problemas internos e externos a resolver, antes de se entregar nas mãos dos alcoviteiros. Até porque, depois a vida se reconstrói e se reestrutura naturalmente. Mas algumas pessoas, em definitivo, não conseguem entender isto.

Eu havia acabado de me separar e, precisando encontrar um pouso até decidir o que fazer da minha vida, aluguei um apartamento num certo condomínio que, naquela época, pareceu conveniente para as minhas necessidades.

No edifício, havia uma "porteira" — não daquelas que se abrem e se fecham, mas daquelas que tomam conta da portaria mesmo — embora esta função seja, em geral, mais atribuída aos homens. Mas a dona Lúcia era uma das porteiras do condomínio. A mulher era a antítese do que se pode considerar como sutileza e discernimento. Grossa, que nem um “elefante dobrado em quatro” e totalmente sem noção das coisas!

Em poucos dias, sabendo que eu era professor de uma determinada instituição, veio logo me dizer que tinha duas sobrinhas trabalhando lá também. Fiz aquele ar de reconhecimento das figuras e uma referência, mentirosa, porém gentil, acerca das duas. Mas daí por diante, dona Lúcia começou a tentar arranjar para mim, de qualquer modo, alguma das separadas que eram minhas vizinhas no edifício. E como tinha gente separada, divorciada e viúva naquele condomínio!

Insinuou uma, insinuou outra e eu me fazendo de desentendido, porque não estava a fim de adotar dona Lúcia como minha “cafetina” particular. Ela sugeria, num tom meio de confidência que a “Fulana” do 702 estava a fim, que a “Beltrana”, do 407 havia perguntado por mim... Mas para ser bem sincero, ela só me arranjava “dragão"! E, não só por isto, mas por isto também, eu ia me mostrando desinteressado no assunto.

Deve ter pensado, depois de algum tempo, que se eu não era gay, devia ser muito tímido ou meio burro, porque ela falava, dava os recados e eu não esboçava nenhuma reação. Então, imagino, resolveu ser mais explícita... Um dia eu ia chegando da rua, já mais de meia-noite e ela estava de plantão na portaria. Aí me disse:

— Perfume bom, esse seu, professor!

Respondi qualquer coisa e ela emendou, na maior caradura:

— Olha... Quando o senhor quiser, fala comigo, que eu "boto uma mulher jeitosa na sua mão"...

Achei que em vez de colocá-la no devido lugar, dizendo que eu ainda não estava precisando desse tipo de ajuda, seria melhor levar na brincadeira, inclusive porque o elevador chegara e eu já ia embora mesmo. Então eu disse, para encerrar o assunto: dona Lúcia, a senhora é uma "gozadora"...

Ela me olhou de um jeito esquisito e respondeu:

— O senhor nem imagina quanto...

Foi muito pior a emenda que o soneto!