UMA TRUFA SENHOR?



O ambiente no aeroporto é sui generis. As pessoas que vem e que vão carregam além das variadas malas multicores, uma bagagem imperceptível que são as experiências que as fazem ser quem são. O saguão do aeroporto não é local apropriado para estabelecer amizades ou mesmo aquele relacionamento superficial. As pessoas estão apressadas para o check-in ou ansiosas pela chegada de alguém, assim, cada um se oculta dentro do casulo mental e acaba alheio às demais pessoas que estão à sua volta.

Hoje, tive que levar meu filho para embarcar rumo ao Galeão. Ele trabalha em Angola e do Rio segue para Luanda depois de um mês de merecidíssimas férias. Quando ele chega a família inteira vai esperá-lo, mas na ida, só duas pessoas são permitidas para acompanhá-lo até o aeroporto, eu e a Adriana, irmã dele.

Passei na casa dele por volta das 11:00 horas e depois do agudo e triste momento da despedida do filho Leonardo e da esposa Kellie, rumamos para Congonhas e lá chegamos por volta das 11:30 horas.

Como o embarque estava previsto para perto da uma da tarde, nos sentamos no saguão, próximo à área de alimentação. Parecia estar quebrado ou desligado o ar condicionado, pois fazia um calor tremendo ali.

Repentinamente vi uma senhora bem idosa passando pelas pessoas e falando alguma coisa. Fiquei curioso, mas logo a minha curiosidade se desfez.

___Uma trufa senhor?

___Obrigado, hoje não.

Ela olhou para meu filho e olhou para mim e disse sorrindo:

___São pai e filho, não?
___ Um é cópia do outro.

Sim, respondi.

Ela disse que sua mãe faleceu recentemente e que se parecia muito com ela.

Não perdi a oportunidade de dizer que a mãe dela deveria ser uma pessoa muito simpática tendo por base a filha que estava ali diante de mim.

Descobri que ela se chama Zilá e com seus 70 anos ou mais, vende suas trufas clandestinamente ali no Aeroporto. Ela disse ao meu filho que ele não pode se esquecer nunca que seus melhores amigos são seus pais.

Mencionou como os filhos modificam suas críticas em relação aos pais com o passar do tempo. Enfim fez jorrar uma série de conselhos de quem já viveu muitas experiências.

Aquela senhora trouxe ao meu coração uma alegria tão grande que resolvi homenageá-la nesta oportunidade. Não adquiri as trufas por causa do diabetes e por causa do calor, pois chegariam derretidas em casa, mas não pude evitar a degustação da trufa de carinho recheada com bondade que ela me deu sem cobrar um centavo.

Deus a conserve por muitos e muitos anos Dona Zilá!