DAS COISAS QUE APRENDI

Nesses meus muitos anos de magistério, tanto tenho ensinado, quanto aprendido. Tenho ensinado, porque isto é o meu trabalho e responsabilidade como professor. Embora — necessário registrar — seja também uma atividade que me proporciona um enorme prazer. E tenho aprendido, por uma série de motivos.

Às vezes, eu aprendo porque, para atender à curiosidade ou indagação de um aluno, vejo-me obrigado a estudar algum novo tema, que ainda não domino bem. Às vezes, eu aprendo porque, ao discutir com os alunos sobre um tema qualquer, eles me mostram um novo ângulo daquela questão, para o qual a minha atenção ainda não se voltara. E às vezes, eu aprendo porque, tentando explicar certas coisas para alguns alunos que apresentam maior dificuldade, eu me descubro desenvolvendo uma forma mais didática de explanar ou de argumentar sobre aquele assunto.

Este contínuo exercício na sala de aula acabou me levando a entender algumas coisas, que têm sido úteis ao meu desempenho profissional, sem dúvida alguma. Mas que, também, terminaram servindo para que eu aprendesse algumas coisas e compreendesse, um pouco melhor, essa intrincada malha que é o relacionamento humano.

Aprendi, por exemplo, que um professor nunca deve responder à pergunta de um aluno, se não se tem o domínio do assunto. Melhor é dizer que tem dúvidas e que irá pesquisar sobre aquilo, para responder na próxima aula (e jamais deixar de fazê-lo, para não perder a credibilidade). Muitas vezes, quando o “pequeno patife” faz a pergunta ao professor, já tem o gabarito daquilo no bolso. E o seu objetivo é, exatamente, o de testar e, sendo possível, desmoralizar o mestre. A isto é que, no meu tempo de estudante, chamávamos de “pergunta de algibeira”; aquela que se traz pronta de casa. Além daqueles que consultam diretamente de um livro, enquanto o professor desenvolve a aula.

Aprendi, também, que o saber proporciona inúmeras vantagens numa discussão. Mas, dentre elas, não está o direito de menosprezar o seu interlocutor. O conhecimento deve ser utilizado, por quem o possui, de uma forma magnânima. Deve ser distribuído com grandeza e não lançado sobre os outros, como um instrumento de humilhação. A glória de quem ensina, sendo ou não sendo professor, é arrancar o outro da ignorância; não é expor a sua obtusidade.

Aprendi, ainda, que nunca se deve presumir a ausência de saber no outro, só porque você é o professor e ele, o aluno. De vez em quando, um jovem desses surpreende o mestre. Por isto ou por aquilo — e os motivos são os mais variados — um docente em sala de aula pode ficar arrebatado, pelo domínio que determinados alunos demonstram sobre certos assuntos. E mesmo assim, não é o caso de sentir-se “desautorizado”: aproveite e aprenda um pouco mais com eles.

E aprendi, dentre muitas outras coisas, que a paciência é uma das virtudes fundamentais, para que alguém possa chegar a ser um educador minimamente razoável. É preciso ser paciente com a dificuldade que alguns têm de aprender. É preciso ser paciente com a falta de concentração de outros. É preciso ser paciente em vários aspectos. Inclusive, quando algum aluno desafiar ou puser à prova a sua autoridade em sala de aula. Mostre que, realmente, tem o domínio da situação, mantendo a calma e não sucumbindo ao desejo de provar quem é o mais forte, diante da turma.

Porque, como já dizia um conhecido meu, “em tudo na vida, quem perde a cabeça, perde a briga”. E na prática do magistério, não é nada diferente disto...