COMO QUEM SONHA

Quando o Senhor trouxe do cativeiro os que voltaram a Sião, estávamos como os que sonham. (Salmos 126)

A felicidade é como um sonho, que quando acontece a gente desconfia se está acontecendo mesmo.

A felicidade é um sonho recorrente, que de tanto nos acostumarmos sonhá-lo, parece só existir durante o sono profundo ou nos devaneios extasiantes.

A felicidade parece só existir com travesseiros e lençóis.

A felicidade é um sonho que, quando se torna realidade, conjeturamos se o sonho entrou na nossa vida ou se foi a nossa vida que entrou no sonho. Confundimos realidade e sonho, um desejo de não acordar, mas também de não dormir, na suspeita que pode ir embora nos primeiros raios do sol ou na visitação da lua.

A felicidade carece de beliscões para ser crida.

Enquanto a felicidade não acontece nos valemos dos sonhos. Quando ela finalmente acontece os sonhos se valem de nós. Ficamos como os que estão sonhando, diz o salmista.

Sonhar é bom. É o exercício da esperança, é o sentimento antecipado do dia bom, é um vale no salário do bom viver (sem desconto no dia da folha).

Todos sonham com a sua própria felicidade, mas quem acredita que já é feliz? É mais fácil crer no dia mal, é mais fácil aceitar que o dia mal vem, ou já veio, ou está no agora. Percebo um conceito generalizado sobre a felicidade e o mal. Parece que a felicidade é sempre onírica, é sempre por vir, é uma quimera que, quem sabe, há de vir. Quanto ao mal, entende-se ser real e a felicidade, uma ilusão. O mal é perene, a felicidade é ocasional.

O mal é crido, a felicidade é suspeita. Tão suspeita que quando é, achamos que não pode ser.

Por que não viver como os que sonham? Por que não sonhar como os que vivem? A felicidade é o seu hoje, o amanhã, é a esperança de outros sonhos se concretizarem. Não podemos deixar de ser felizes hoje, esperando pela felicidade de amanhã, que não será percebida tanto quanto a de agora, se não abrirmos nossa vida para o sonho e nosso sonho para a vida.