Água "clorada"

Os jovens, dois irmãos, a Marilene e o Joaquim, e um primo, o Luiz, tinham finalmente conseguido a autorização dos pais para a viagem. Aquela viagem dos sonhos, que ele queriam fazer desde que eram bem pequenos. Aquela viagem que planejaram cada detalhe, deitados sobre um mapa do Brasil. E agora, como os três tinham passado no vestibular, ganharam de presente a autorização e o dinheiro para realizar o sonho.

A cidade escolhida, Pirinópolis, em Goiás. Um local histórico, cheio de lendas e famoso pela comida. É, pela comida. Em suas famosas pensões, a cada refeição eram oferecidos mais de sessenta pratos e mais trinta doces. E olhem que essa história se passou antes da comida a quilo ser inventada.

Os cariocas Marilene, Joaquim e Luiz, ficaram encantados. Era melhor que a encomenda. Para economizar o dinheiro, tomaram um quarto somente, numa pensão. Um quarto com três camas. O que deixou a dona da pensão muito desconfiada, já que não era comum por lá, uma moça dormir com dois rapazes. Mas como essa gente do Rio de Janeiro era mesmo diferente, a senhora aceitou. O quarto não tinha banheiro, mas Marilene nunca imaginou que o banheiro fosse lá fora, no quintal. Um “quartinho”, como era chamado em Pirinópolis. E o que aconteceu a seguir, na primeira noite de férias, vocês nem podem imaginar.

Os dois rapazes, na hora de dormir, foram lá fora e usaram o “quartinho”. De sacanagem, vieram dizendo que o quintal estava cheio de sapos pulando. Quem disse que Marilene foi fazer xixi, depois disso? Foi nesse momento que começou seu suplício. Ela agüentou o mais que pode, e finalmente resolveu ir lá fora, acompanhada do irmão. Surpresa: a porta para o quintal já estava fechada, o que fez os primos concluírem que os demais hóspedes usavam o velho urinol. Mas não havia urinol no quarto deles.

Cada vez mais apertada, Marilene resolveu esperar os rapazes dormirem. Finalmente. Aí, desesperada, Marilene resolveu fazer xixi no copo. Mas era muito xixi. O primeiro copo, foi jogado pela janela. O segundo também. Mas quando ia jogar o terceiro, que estava de xixi até a metade, uns rapazes vieram fazer uma serenata para ela, debaixo da janela. Encantada, Marilene dormiu com música. E acordou com o seguinte comentário do primo: “Mas a água de Goiás é tão clorada, minha gente, tão estranha.” Claro estava que ele tinha completado o xixi de Marilene com água e bebido a mistura.

Luiz agüentou bem as risadas e piadinhas dos primos a viagem toda. Mas Marilene também não escapou. Até hoje, trinta anos depois, quando Luiz, senhor de respeito, cumprimenta a prima, também uma senhora de respeito, ele brinca dizendo baixinho: “Eu gosto de beber um xixi, eu gosto...”

Lilia Barcellos
Enviado por Lilia Barcellos em 28/04/2006
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