NEM BOIADA E NEM BOIOLICE...

Ano após ano, acontece aqui na terrinha aquela tradicional “Exposição Agropecuária, Industrial e Comercial”. E com ela, certamente virão, como em todos os anos, aquelas centenas de fazendeiros e latifundiários, saídos... Ninguém sabe de onde.

É gente que confunde um pé de café com um cajueiro, olha um búfalo pensando que é um zebu e não tem de terra, nem mesmo um jazigo no Campo da Paz. Mas está lá, a cada ano, devidamente trajada com botas, chapéus e roupas de couro, curtindo a sua fantasia de “produtor rural”. Uma graça, que acredito seja comum a todas essas exposições do gênero!

Sei que nem todo mundo partilha desta opinião e muitos acham mesmo que, sendo ou não sendo “do campo”, o melhor é entrar no clima e no astral da festa. Só que, nos últimos tempos, aqui entre nós, o próprio astral do evento já não vinha mais sendo tão rural assim. Porque, de alguns anos para cá, esta Exposição, na prática, quase deixou de ser “agropecuária”, para tornar-se, basicamente, “comercial e industrial”.

Foi uma opção da Fundação Rural que promove e organiza o evento, que não me cabe e nem pretendo discutir. Mas que, com certeza, deve estar vinculada aos resultados empresariais e financeiros do empreendimento. E mesmo que eu não seja um grande entusiasta deste tipo de exposição, tenho a lamentar o fato de que a sua descaracterização, de alguma forma, tenha acabado por esvaziá-lo da participação dos maiores produtores rurais, desta e de outras regiões.

Afinal de contas, para um pecuarista que expõe os seus melhores exemplares — a um custo elevado e com alguns riscos no seu deslocamento — de que vale obter uma premiação numa exposição sem maior ressonância no circuito?

Ultimamente, a Diretoria da Fundação Rural andou divulgando pela mídia, que a nossa Exposição vai tomar novo rumo e sentido. Será resgatada a sua feição fundamental de mostra de produção agropecuária e, quanto ao mais que se expuser, será apenas uma mostra complementar, já que, comercialmente, não se vai deixar perder uma oportunidade dessas.

Quem viver verá! Tomara que, assim, de fato, aconteça. Porque, a continuar do modo como vinha ocorrendo, seria melhor que os visitantes estivessem vestidos de sorveterias, piscinas, “fast food” ou de produtos de informática, para ficarem trajados mais de acordo com o espírito da festa.

Faço esta defesa de um retorno do evento às suas características originais, porque compreendo o quanto isto é importante para a nossa região. Não porque eu seja — como já deixei claro — um grande aficionado da vida em contato com o campo. Reconheço o quanto a atividade do setor primário é importante, do ponto de vista econômico. Mas — natureza por natureza — eu sempre hei de preferir uma praia mais deserta.

Não tenho o pejo de admitir que, para mim, boi é um bicho muito chato mesmo. Só fica bem numa churrasqueira ou na mesa da gente. Exceto para os vegetarianos, que preferem substituir uma picanha suculenta por um bom pepino. Tem gosto prá tudo!

Posso dizer que sou apreciador de um churrasco bem feito e de outros pratos de carne bovina. Mas, cá para nós, não sinto o menor entusiasmo por essa coisa de passear em sítio e fazenda. Sobretudo quando o anfitrião me convida, orgulhoso, para conhecer o bezerrinho que nasceu no dia anterior.

Da última vez que passei por esta feliz experiência, quanto mais eu tentava limpar os meus sapatos, mais o entusiasmado proprietário do rebanho insistia em que eu conhecesse outro pasto ou curral. Êta desespero!

Por derradeiro, quero dizer que pretendo aparecer algum dia lá pela próxima Exposição, para ver como é que estão indo as coisas. Mas não irei vestido de “cowboy” e também não tenho a intenção de ver os animais de quatro patas que estiverem sendo exibidos. Já que, do encontro com alguns daqueles de duas patas, é praticamente impossível a gente se livrar.

Em compensação, jamais trocarei um saboroso churrasco por um pepino de bom calibre. Porque, para mim, o melhor é estar no meio termo: nem boiada e nem “boiolice”. Dieta de alface, cenoura e pepino? Tenha paciência!