Diga "bem-vindo"

O grupo de turistas argentinos, a maioria da 3ª idade (“porsupesto”, nesta época do ano) acabara de desembarcar em São Francisco, vindo com o “Príncipe de Joinville”. Turista em grupo é meio destrambelhado, não importa de onde venha ou onde esteja. Aliás, se você estiver em outro país e topar com excursão de brasileiros, disfarce, invente uma língua incompreensível, qualquer coisa para não passar vergonha, porque, ô turma que se excede lá fora!

De volta a São Chico, cidade onde mora meu coração e um dia o corpo também vai morar: em frente ao local de desembarque a rua se estreita e há um simulacro criativo de faixa de pedestre. Digo simulacro porque feita com pedras maiores em meio aos paralelepípedos e não pintada, até porque é muito difícil manter essas pedras pintadas. Por ali atravessaram os “hermanos”, como deveria ser, embora sem olhar muito para o lado, e a história terminaria ali, não fora um automóvel, com placa da cidade – é de supor que o motorista conheça alguma coisa do lugar onde mora - forçando passagem entre os pedestres. Já estaria ruim o suficiente se parasse por aí, mas a passageira, com toda educação que deve ter aprendido em casa e na universidade (presumo, pois precisa ter pós para agir assim), colocou sua linda cabecinha oca para fora e gritou, com os pulmões que muito treino em grossura lhe deu: “Aqui passam carros e não carroças”. Se gritou algo mais, o ronco do carro, acelerando, encobriu.

Cenas similares, infelizmente, são muito mais comuns do que se gostaria em nossas cidades. Arrisco dizer que são mais regra do que exceção. Em maio, o Conselho Mundial de Viagem e Turismo fará sua reunião anual em Florianópolis, pela primeira vez na América Latina. Oxalá os convencionais não atravessem nenhuma rua....

Discursos e laudas e mais laudas são gastas para enaltecer o papel do turismo, a famosa “indústria sem chaminés”, mas é preciso que cada pessoa se conscientize que todos lucram com ele, não apenas o “trade” turístico. O turista se alimenta e, com isso, dá emprego a uma imensa rede de fornecedores e trabalhadores; até para dormir movimenta um sem número de atividades econômicas, da plantação de algodão aos serviços especializados. Ele compra e aí não precisa dizer mais nada. Em última análise, gera impostos, que geram bem estar. Até para a moça desbocada do carro aquele. Portanto, é preciso dizer e agir “bem-vindo”. Ou desistir do assunto.

Falando na moça: ela tem razão, ali, além de passagem para pedestres, o é, também para carros. Até para aqueles com um monte de cavalos no motor e dois asnos sentados dentro.