Quando Começamos a Ver

Quando começamos a ver, nada era como antes. Matávamos nossas vidas e todos que nos cercavam. Matávamos na água, na terra, nos ares e por todo campo visível. Quando começamos a ver, tudo já havia sido morto...

E quando éramos infantes, mulheres morriam em fogueiras por causa de não sei o quê. Mulheres que morriam em fábricas, em casas, nas guerras, nas ditaduras. Mulheres que morriam sem saber por quê. Mulheres que morriam e pensavam: "o que diria as mães de nossos algozes?".

Nossos alvos eram determinados. Um humano que matava outro. Matamos negros, sim! Negros intocáveis. Pessoas que não eram negras, eram gente! O que é a cor da pele? O que ela define? Seria a cor da subordinação ao homem branco como os escravos latino-americanos? Ou seria a cor da glória e igualdade mostrada por Jesse Owens em plena Alemanha nazista? Não eram só negros que apanhavam, nós ainda apanhamos por nossos pecados. "Somos teus irmãos tu nasceste em nosso berço", diria o irmão negro.

E quando corríamos pela rua, brincando com armas de madeira, de papelão e, que com o tempo, se tornaram armas de verdade. Armas do tráfico. Armas das guerras. Armas do tamanho de crianças e que agora brincam de se odiarem. Pobre infantes! Não sabem nem o que significa odiar. As pedras tinham outras finalidades, não serviam para matar ninguém. "O que é ódio?"

Enfim, tudo começa conosco. Nossa terra corrompida. Nossa terra usurpada. Fizemos os donos da terra de escravos. Matamos índios com nossas pragas, com nossas lutas e com intolerância. Tudo isso pertence à um dono... Somos meros invasores de uma terra há séculos ocupada. Terminamos por destruir seus progressos, pois o progresso do homem caminha ao lado da destruição em um passo infinito de uma valsa ignóbil.

Entretanto, quando começamos a ver?

Quando os fantasmas despertaram e nos deram nosso mundo de hoje. Deram-nos a verdade nua. Deram-nos humanos mortos. Deram-nos visão e uma chance de recuperar. Como? O ser humano já viu tudo, mas não sabe enxergar...

E entregamos tudo a nosso eterna cegueira...

Valdemar Neto
Enviado por Valdemar Neto em 08/03/2009
Código do texto: T1476410
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