Um dia diferente

Ainda estava escuro, e ela já acordada pensava consigo mesma. Pensar consigo mesmo não é uma tarefa fácil, não temos como não pensar no que estamos sentindo, como uma criança quando fala o que pensa, não importando nem a forma nem o tom, mas sim a sinceridade do conteúdo, independente se vai agradar ou não a quem escutar, se é uma pessoa estranha ou não. A criança fala o que sente. E dessa forma ela estava no despertar da manhã, pensando... Hoje é um daqueles dias diferentes, depois que se aposentou, todo mês uma coisa acontecia que a fazia ver o dia ficar dessa maneira, mais alegre, não sei se mais feliz. Mas ai é querer demais, já basta ser diferente e alegre, além já é lucro. Esse dia, é o dia em que ela vai receber seus proventos, resultado de anos e anos de uma professora que passou muito tempo de sua vida ensinando às crianças ansiosas pela busca do saber.Querendo ou não era isso que assim pensava.Levantou-se da cama de forma cuidadosa, pois havia dois entes queridos que dormiam profundamente, sua filha e sua neta.Não foi assim que imaginou viver quando aposentada, mas as surpresas da vida assim decidiram.Um ambiente que muito mal daria para viver seus dias tranqüilos, compartilhava com mais duas pessoas e uma delas uma criança.Será que foi por isso que pensou na sinceridade das crianças ou porque viveu tanto tempo convivendo com elas com quem aprendeu essas sabedorias da vida,que só elas são capazes de transmitir, e que também aprendeu a pensar consigo mesma?.Entrou no banheiro, e também pensando, começou a cantarolar uma cantiga que nem ela sabia o que era, mas era uma prova em seu comportamento que o dia estava alegre, diferente.Tomou seu banho e com os mesmo cuidados de fazer silêncio, vestiu seu vestido amarelo, se penteou, pegou sua bolsa preta, onde continua seus documentos que seriam exigidos pelo caixa na hora de receber sua grana e um saco plástico bem dobradinho, daqueles que sem querer, fazemos propaganda de supermercados quando andamos com alguma coisa dentro dele. E saiu, ainda pensando não sei bem o que, quando de repente viu um gato estirado no chão, morto, próximo a uma lixeira.Poxa, que pena.Ele está morto.Deve não ter sido coisa boa na vida, pois para morrer teve que perder suas sete vidas.Mas merece pelo menos um enterro digno de um animal nessa coisa que é o planeta terra. Pegou o gato e colocou-o dentro do saco , que em princípio como fazia mensalmente neste alegre dia, tinha a função de guardar seu dinheiro,na tentativa de resguardar dos ladrões da redondeza essa recompensa pelos vários anos trabalhados.Colocou o animal ainda com o corpo quente, dentro dele.E pela primeira vez no dia, pronunciou as seguintes palavras :” Vou primeiro ao banco e depois enterro você em lugar bonito para que você consiga descansar em paz”.

E assim seguiu caminhando. Entrou no banco, enfrentou aquela fila, pois como ela, haviam outras pessoas que também considerava esse dia diferente, e após alguns intermináveis minutos recebeu seu dinheiro mais que merecido. Contou as cédulas, estava correto o valor.Mas ai foi que veio perceber o grande problema que teria de resolver: aonde colocar seu dinheiro que acabara de receber, pois o local mais seguro seria aquele saco plástico do supermercado que havia usado para colocar seu defunto, o gato.

É, não teve outro jeito senão arriscar e colocar todo seu dinheiro dentro da sua bolsa preta, que se mostrava nova e sem uso. Tudo resolvido,mas com certo temor, conseguiu passar naquela porta giratória que os bancos têm sentindo as mesma dificuldades quando na sua entrada e desceu as escadas. Quando colocou seus pés na rua, olhou para um lado e outro e não viu nada que a chamasse sua atenção.”Estava tudo limpeza total”.Então começou sua caminhada de volta, quando de repente, surgiu uma moto não se sabe de onde, com dois rapazes, que passando rapidamente por ela, um deles pegou o saco plástico e sairam em disparada , deixando-a mais uma vez pensando consigo mesma.Esse gato salvou o seu dia e seu dinheiro, mas a alegria desse dia se perdeu pois ela não pode fazer aquele enterro que tanto desejou, do seu salvador.

José Mário Fernandes
Enviado por José Mário Fernandes em 09/03/2009
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