A fábula do fazendeiro, do burro e do cavalo de corrida
Levantava cedo e cedo trabalhava, nunca o sol o surpreendera dormindo ou ainda se espreguiçando; quando arriscava esticar seu olhar por sobre os montes, já lá estava o humilde colono em sua lida, ordenhando as vacas, soltando-as no pasto, alimentando a criação e, mal as primeiras luzes começavam a se refletir no riacho que passava em frente à casa, a roça recebia o pisar decidido de seus pés, calçados com toscos tamancos. Ainda em casa, a mulher tratava de deixar tudo limpo e organizado e, almoço encaminhado, ia ao encontro do marido, companheira exemplar que era.
A terra era boa e reconhecia o esforço do casal: os animais não adoeciam e sempre havia excedente de leite, ovos e carne, que, juntamente com os produtos da roça pequena, mas bem cuidada, permitiu-lhes poupar e, assim, agregar mais terras à sua propriedade.
Quando a filha nasceu, já a vida não era tão dura. Devido ao crescimento da propriedade, contavam já com alguns empregados, o que lhes permitia alguns luxos nunca antes pensados, como ficar em casa por mais tempo, mesmo que fosse apenas para mirar a pequena com olhos de amor derramado.
Cresceram juntas, a menina e a terra, e, quando ela passou a ser chamada de moça, o colono já recebia tratamento de fazendeiro, e bem sucedido.
Amoroso, resolveu surpreender a filha, presenteando-a com uma charrete e, para o presente ficar completo, saiu a procurar o melhor cavalo da região. Encontrou-o logo; impressionado com seu porte e beleza, gastou algumas vezes mais o que pretendia, mas levou o animal.
Na fazenda, ele, o capataz, mais aquele grupo de bajuladores que sempre aparece nessas ocasiões, trataram logo de encilhá-lo e deixar tudo pronto para que puxasse a charrete com o garbo que aparentava. Nunca antes se viu tamanha confusão. Nem depois. Foi charrete tombando para um lado, a turma dos puxa-sacos se esparramando com uma rapidez invejável, arreios e toda parafernália espalhada como um rastro atrás da poeira deixada pelo cavalo em disparada.
No pasto, um burro, já bastante velho, olhava a tudo com interesse e certo sarcasmo. “Até um burro sabe que cavalo de corrida não puxa carroça”, pensou, e continuou a comer.
Moral da história: às vezes, para não fazer burrada, é melhor perguntar ao burro primeiro.