Despertador

Poderia passar horas prevendo as próximas. Se prósperas não sei, mas é o que espero. Esperaria dias contando os meus passos firmes, mas quanto às noites, cansei, não tenho mais pernas para isso. O sono quer me alcançar na altura do veneno de ter que acordar cedíssimo. Como ganhar dinheiro sem rotina? Roubando? Cometer não posso. Suicídio! Antes pobre a salvo que rico mendigo. Digo isso porque estou afirmando: vamos todos embora impontuais para fora.

Não suporto as ladainhas, ave-marias das seis eventuais, o chá que antecede a reza no encontro pseudo-britânico mofado dos intelectuais. Ampulhetas absoletas postas sobre uma mesa de cabeça para baixo. Um cuco piando ferrugens dentro do armário velho da casa e sobre ele um retrato pintado vivo, de casal chamado Vítor & Concórdia. Nem me indague o porquê desses nomes. Vieram assim feito dejavú, soando feito saudade, como se em minha cristaleira houvesse esquecido um Rolex a jato. Adorno para pulso.

Melhor um abraço. Aceno é muito óbvio. Tudo acaba, esgotado o segundo. Morte é a previsão da parte chuvosa do tempo, embora o corpo adube e brote tal semente de eternitude tão falada. Se for verdade, a fé cura. Se for mentira, seremos todos o infinito? Bom, então acorda, dê corda no trim trim e dispare o sim à própria vontade.

por: PAOLA FONSECA BENEVIDES