PROJETO ANTÁRTICO BRASILEIRO

“Língua; sentimento de nacionalidade; cultura, ciência e pesquisa autônomas são os pilares essenciais da Soberania Nacional”. S.M.P.


           Sempre que me reporto oralmente ou escrevo acerca da Língua Portuguesa faço questão de referir ser ela a 3ª mais falada no Ocidente, atrás apenas do inglês e do castelhano e um dos quatro (4) únicos idiomas falados nos seis (6) continentes (os outros são o inglês, o francês e o espanhol).
           Invariavelmente recolho manifestações de estranheza, de perplexidade mesmo, tais qual: - mas não são cinco os continentes? E citam os de geral conhecimento: Europa, Ásia, África, América e Oceania. Esquecem, ou mais certamente ignoram, ser a Antártica o sexto continente de nosso planeta.
           A Antártica, também conhecida como Continente Austral ou Continente Branco, foi o último deles a ser alcançado, por sua inospitabilidade e difícil acessibilidade. Está localizada quase concentricamente, em torno do Pólo Sul, apresentando, ao norte, uma península de direção ascendente. O explorador inglês Robert Scott foi o primeiro a atingi-la e percorrê-la, alcançando o Polo Sul, em expedição empreendida de 1901 a 1904. É o antártico um continente de muitos superlativos. Com seus 14.108.000 km² tal imensidão terrestre tem proporções que ultrapassam as do continente europeu e as da Oceania, representando nada menos que 9% das terras emersas do globo, cobertas por imensas geleiras eternas (à exceção da Península), que representam 90% de toda a água doce do Planeta, e uma fauna autóctone exclusiva e riquíssima. È o mais isolado, frio, elevado, ventoso e seco continente da Terra. Essa formidável iceland é quase totalmente desabitada, a não ser pelos postos científicos lá instalados, e tem importância capital para o futuro da humanidade.
           Dada sua importância estratégica, em 1959, vários países assinaram o Tratado da Antártica, o qual estabelece o compromisso de uso dessa região exclusivamente para fins pacíficos e da cooperação internacional para o desenvolvimento da pesquisa científica. Nosso País aderiu a esse Tratado em 1975, passando a fazer parte de um seleto e fechado grupo de nações (26, somente) que o integram e ocupam áreas para exploração e estudo, mantendo bases físicas permanentes. Por tais singularidades à Antártica caberia bem o denominativo de Continente da Ciência.
           O Programa Antártico Brasileiro – PROANTAR foi criado pelo Decreto nº 86.830, de 12 de janeiro de 1962. Sua programação é elaborada e desenvolvida pela Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM), em estreita consonância com os compromissos internacionais assumidos pelo País no âmbito do Tratado da Antártica.
           Esse programa de investigação e pesquisa é um dos de mais alto nível científico levados a cabo pelo Brasil, conquanto muito pouco conhecido dos seus habitantes,   lastimavelmente, e coloca a nação brasileira e sua comunidade científica na elite e vanguarda da pesquisa ambiental, junto com outras nações de reconhecido e elevado nível de tecnologia e desenvolvimento. O Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), através do CNPq, responsabiliza-se pela seleção e acompanhamento das atividades científicas do PROANTAR.
           Para tais estudos, inicialmente, o Brasil adquiriu e equipou um navio apropriado para trabalhos nas regiões polares a que deu o nome de Navio de Apoio Oceanográfico (NApOc) “Barão de Tefé”, que zarpou pela primeira vez em dezembro de 1982. Nessa pioneira viagem exploratória e nas quatro seguintes houve a participação complementar do Navio Oceanográfico “Prof. W. Besnard”, do Instituto Oceanográfico da USP. Tais expedições garantiram o reconhecimento internacional do Brasil e sua aceitação como membro consultivo do Tratado, com direito a voz e voto nas questões ligadas ao destino daquele continente gelado.
           Nossa base física no Continente Austral está representada pela Estação Antártica “Comandante Ferraz”, assentada na Baía do Almirantado, na Ilha Rei George, integrante do arquipélago Shetland do Sul, junto à Península Antártica. Foi inaugurada a seis de fevereiro de 1984 e chancelou a presença brasileira na Antártica. A Estação, que dispõe de um centro integrado de comunicações viabilizado por meio de satélite, conta atualmente com sessenta e dois módulos integrados, compreendendo alojamentos, refeitórios, oficinas, sala de estar, enfermaria, armazéns, cozinha, lavanderia, biblioteca e mesmo um pequeno ginásio de esportes, podendo acolher até 42 integrantes dessa estratégica equipe de dedicados compatriotas. A base conta também com um heliporto para operação de aparelhos de médio porte. Há suprimento permanente de energia elétrica, para todas as necessidades da estação, fornecida por geradores de alta performance.
           Complementarmente, visando a ampliar a ambiência geográfica das pesquisas, foram instalados quatro refúgios (conjunto modular para até seis pesquisadores): um na Ilha Nelson (Astrônomo Cruls); dois na Ilha Elefante (Emílio Goeldi e Engº Wiltgen) e um na própria Ilha Rei George (Pe. Rambo). Acampamentos móveis, por vezes, são também utilizados em determinadas pesquisas (como as de Glaciologia).
           A Marinha do Brasil, por intermédio da Diretoria de Hidrografia e Navegação, desenvolve atividades de cartografia. Em algumas operações o Navio Oceanográfico “Comandante Câmara”, daquela Diretoria, executou trabalhos geofísicos.
           Mais recentemente a Marinha do Brasil adquiriu um navio de operação polar, incorporado com o nome de NApOc “Ary Rongel”, em 1994, que substituiu o vanguardeiro “Barão de Tefé” com muitas e reais vantagens, visando a dotar o PROANTAR de meio mais moderno e permitir o incremento de novos projetos; opera com dois helicópteros de pequeno porte e é dotado de um laboratório de pesquisa nas áreas de Meteorologia e Oceanografia Física e Biológica, podendo acomodar até vinte e sete pesquisadores.
           A Força Aérea Brasileira garante o imprescindível apoio logístico ao PROANTAR, realizando, anualmente, sete voos de interligação, possibilitando a troca de pessoal técnico e o necessário abastecimento.
           A Estação Antártica “Comandante Ferraz”, desde março de 1996, mantém permanência contínua de cerca de vinte e quatro pesquisadores e é guarnecida por dois grupos de oito militares da marinha, que se revezam periodicamente.
           “É gratificante verificar que, em apenas duas décadas, o Brasil já está solidamente plantado em uma região tão vasta, desafiante e promissora como o continente gelado. (....). O Brasil, há vinte anos, ‘vai do Oiapoque à Estação Comandante Ferraz’”, a redizer o ex-Ministro da Defesa, José Viegas Filho, em Mensagem Ministerial.
           As atividades científicas lá desenvolvidas, com o apoio de diversas universidades e institutos brasileiros, estão agrupadas em Ciência da Atmosfera, da Vida, da Terra e Geofísica da Terra Sólida, compreendendo áreas de conhecimento tais como: Meteorologia; Geologia Continental e Marinha; Oceanografia; Biologia; Astrofísica; Glaciologia; Geomagnetismo e Geofísica Nuclear. Lá, por exemplo, é o local ideal para o estudo e monitoramento do ameaçador “buraco” da camada de ozônio da atmosfera (ozonosfera).
          E lá se fala, estuda, pesquisa e pensa em português, evidentemente.

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Médico e Escritor. ABRAMES/SOBROMES
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Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 16/03/2009
Reeditado em 21/07/2011
Código do texto: T1490362
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