Apocalipse – Juizes da Natureza.

O primeiro juiz: O vento.

E disse o vento: Cuspirei na cara do alheio a maldade dos incrédulos. De minha boca ouvirás um sibilo canônico e em meu rosto _ folhas, palha, e toda sujeira de vosso chão_ refletirá minha indignação.

Neste dia poucos entenderam, contudo, milhares sentiram na carne as dores da sofreguidão que senti em minha alma. Não haverá emplasto para tantas feridas, nem madeira para tantos caixões. Não sentirás em tua pele a mão da vingança, pois, será a tua consciência que lhe fará justiça.

Que o sábio não se faça de surdo e o incrédulo não se faça de cego. É chegada a hora, quando a natureza soprará cinzas sobre a vossa arrogância, eis que chegará o dia, portanto; quantos de vocês, estão prontos.

O segundo juiz: A água.

E sobre vós estarei, inundando o solo rachado, invadindo cidades e evaporando onde me tinham em abundância, nem represas nem açudes, lagos e rios, a tua boca não visitarei, entretanto, quando e porquê; serei um beijo salobro e mal cheiroso.

Não farei juízo de vossa casta, serão tuas lágrimas como o vinagre e o ázimo, na condenação por teus atos. Porque de tuas mãos recebi o esgoto, lamentei o lodo, me tornei impura e imprópria para teu consumo.

O terceiro juiz: O fogo.

É posto que o excesso de vento e a escassez de água anunciaram minha chegada. E vindo por tua mão, ardendo sobre a relva, consumindo gravetos secos, atirando-me em florestas e na soleira de vossos portais. E estará teu rosto coberto de cinzas e tua garganta ressecada, dar-me-ei aos prazeres de tua ignorância, comerei os frutos de tua ganância.

Por quanto tempo fui tua espada de destruição?

Eis que o terceiro juiz ardeu sobre a palha e flamejou sob as raízes e se havia ainda alguma semente, seu abrasamento transformou em cinzas. E os três juizes silenciaram para que o último ganhasse voz.

Então surgiu o quarto juiz, sem temores, sem conflitos, sem alarde... Vestido de piedade, aplacou a fúria do vento, chorou sobre a terra lágrimas de renascimento, apagando o fogo e vicejando as sementes.

Como um pai, acariciou a têmpora dos incrédulos, no rosto beijou todos os sábios e fechou as portas do inferno.

_ Mas até quando homens de grande visão, continuarão cegos?

E o quarto juiz; denominou-se: Consciência humana.

Sandro Colibri
Enviado por Sandro Colibri em 17/03/2009
Reeditado em 04/01/2010
Código do texto: T1491965
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