O CACHORRO DO MEU PAI

Hoje acordei com saudades do cachorro do meu pai.Um mês depois do meu 11º aniversário ele se mudou pra casa da vizinha. Não entendia o por quê, minha mãe sempre dizia que cachorro macho é assim mesmo. Só me lembro que sempre que ficava zangada com ela, ou com muita saudade do meu pai, eu gritava:

- Nem o cachorro do meu pai quis ficar nessa casa.

E ela, calmamente respondia:

- Filha, a vizinha era esposa do melhor amigo do seu pai, por isso ele foi morar na casa dela.

Não importa, no mesmo dia eu perdi meu pai e minha mãe o cachorro - quando era pra elogiar o cachorro era dela.

Até hoje ela mesma diz que aquele foi o único cachorro que ela gostou de verdade, teve outros mas nunca se apegou. Ficava com eles um tempo daí enjoava e mandava embora.

Minha irmã até hoje não quis saber de cachorro em casa mas eu resolvi tentar. Quando contei pra minha mãe ela foi logo dizendo:

- Você é quem sabe, mas não importa a raça nem a cor: cachorro macho vive demarcando território.

E completava: - Melhor escolher fêmea.

Nem dei ouvidos.

Com a convivência vi que minha mãe tinha lá sua razão.

O meu não podia ver rabo de saia que ficava na maior safadeza e quando eu saia com ele na rua não podia ver uma fêmea que já queria cruzar.

Que vergonha!

Mas como eu não queria dar o braço a torcer pra minha mãe, agüentei firme. A gota d’água foi o dia em que cheguei do trabalho e encontrei aquela minha blusa maravilhosa - de seda fina, decotada e justinha -, toda rasgada. Fiquei furiosa e mandei o cachorro embora.

Passei uma barra pois meu filho já tinha se apegado ao cão, mas não teve jeito não podia voltar atrás na decisão.

Ficamos um bom tempo sem cachorro em casa. Em um dos aniversários da minha caçula saímos para escolher um presente e o inevitável aconteceu: nos apaixonamos por um par de olhos castanhos naquela carinha de “mamãe me leva”.

Voltamos pra casa felizes com a primeira fêmea da minha vida: Pandora.

Mas essa é outra história!

P.S.: Depois do enterro do meu pai nosso cachorro, Buquê, passou a morar na casa do melhor amigo dele. Todo dia ele vinha nos ver mas nunca mais dormiu na nossa casa.

Etelvina de Oliveira
Enviado por Etelvina de Oliveira em 19/03/2009
Código do texto: T1494882
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.