MA R O L I N H A

Lembro-me que em setembro último começou-se a perceber que alguma coisa estava mudando na economia. Um dos primeiros sinais foi a desvalorização do real, que de R$1,68 passou a R$2,10 por dolar, em valores aproximados.

Pouco depois o noticiário informava a origem da crise, iniciada nos Estados Unidos, com a questão das hipotecas imobiliárias sem lastro, comprometendo todo o sistema financeiro americano. Vendiam-se, aos montes, casas aos americanos, financiadas, sem nenhum critério de avaliação das condições econômicas dos compradores, que eram caçados a laço pelas empresas do ramo.

Foi alguma coisa parecida com o chamado "milagre da multiplicação dos pães". Grandes somas envolvidas, sem garantia, no negócio imobiliário, que beneficiava corretoras de imóveis e bancos. Lá pelas tantas, como seria de esperar, os compradores não conseguiam ou não queriam pagar as suas prestações, por ser a dívida superior ao valor do imóvel e, assim, devolviam os imóveis hipotecados.

Resultado: um número imenso de moradias sem moradores, que não encontravam interessados na sua compra. Os preços despencaram e nem assim os imóveis eram revendidos. Um verdadeiro elefante branco nas mãos dos agentes financiadores. E esses imóveis desocupados geravam despesas de conservação, agravando ainda mais a situação. Vi, pela televisão, um corretor oferecendo uma casa a um potencial comprador a um dolar de entrada. Não conseguiu vender, porque o sujeito não queria se endividar, receioso de não conseguir suportar a dívida. O medo tomou conta do povo.

Em outras palavras, um montão de dinheiro investido na construção de moradias que se tornaram, num curto espaço de tempo, ativos podres, representados por títulos hipotecários sem nenhum valor.

É claro que os valores envolvidos representavam bilhões de dólares, para abalar, como abalaram, toda a economia americana, levando algumas empresas de grande porte, assim como bancos, à beira da falência. Aí entra o governo, com o dinheiro do povo, para socorrer tais empresas, evitando um risco sistêmico no setor financeiro que, fatalmente, comprometeria toda a economia do país. Outros setores importantes da economia americana foram arrastados pela crise de crédito, e portanto de vendas, recebendo também socorro governamental.

Todos os países seriam e foram afetados pela crise de crédito, nos cinco continentes. O comércio mundial encolheu. As economias tornaram-se menores e ainda não sabemos como e quando a situação irá se normalizar.

O nosso presidente, sempre afoito e populista, sem saber o que diz, irresponsavelmente afirmou que o Brasil seria pouco afetado pelo "tsunami" econômico, que, aqui nas nossas paragens, não passaria de uma "marolinha". Uma afirmação dessa pode ser atribuida às seguintes hipóteses: mentira ou ignorância. Mentira porque ele sabia que a crise se tornaria, como está sendo, séria no Brasil e ignorância, porque ele nunca sabe de nada e é mal assessorado. Fala pelos cotovelos e, o pior, tem a credibilidade da grande maioria da população. Também pudera, com tantos programas assistencialistas e eleitoreiros irresponsáveis.

A "marolinha" do presidente está aí, permitindo que todos possam ir à praia. Praia do desemprego, da falência de empresas, do retrocesso da economia, da gastança do governo.

Gaba-se o presidente de o Brasil ter crescido no seu governo, como se ele tivesse feito alguma coisa para que isso acontecesse. Não é capaz de confessar que o país cresceu nos últimos cinco anos levado por um crescimento generalizado de quase todos os países e que, muitos deles, cresceram muito mais que o Brasil. Cresceu porque houve uma grande procura por comodities que o Brasil exporta, com preços nunca antes alcançados, permitindo ao país acumular reservas acima de 200 bilhões de dólares.

Não soube o governo aproveitar-se da maré favorável. Poderia ter sido mais austero nos gastos e mais ousado nos investimentos, quer em infraestrutura, quer em educação, saúde e saneamento. Preferiu gastar irresponsavelmente.

Inventou um tal de PAC, que está completamente empacado. Mas tudo faz parte de um processo de propaganda enganosa a favor do governo, cujo único objetivo é permanecer no poder. Já está em plena campanha política para eleger a Dilma, plastificada, certo de que ela vai preparar o caminho para o retorno de Lula em 2014 ou 2018.

Qual foi a grande obra do governo Lula? Herdou o país com uma moeda estável, herdou programas de incentivo à educação, como o Bolsa Escola (cujo nome foi mudado para Bolsa Família, sem qualquer contrapartida, totalmente assistencialista e populista). Herdou um país pronto para crescer, ganhou de presente uma fase próspera da economia mundial. Mas e as estradas, o saneamento, a saúde, a educação, a energia. O petróleo? As novas descobertas de bacias não são mérito do governo, mas sim obrigação da Petrobrás, que tem lucros exorbitantes, tal como têm os bancos.

O que faz um governo esperto, para conseguir nível de popularidade jamais visto? Aumenta o salário mínimo, em detrimento dos aposentados que recebem mais de um mínimo (o número de aposentados que recebe o mínimo é muitas vezes superior ao dos que recebem mais de um salário mínimo); Aumenta o Bolsa Família, que poderia ser chamado de bolsa esmola, porque não incentiva os beneficiários ao seu próprio crescimento, libera verbas para "ongs" de atividade duvidosa, estimula as invasões de áreas produtivas, financiando essas invasões, faz vista grossa para os desvios de dinheiro público, sempre afirmando que não sabe de nada (ignorante), arranja emprego para os seus correliginários, sei lá mais o quê. Uma farra. A classe média está encolhendo e, a continuar assim, teremos, no futuro, duas classes: a do salário mínimo, um montão de gente, e a dos endinheirados.

Em recente encontro com o presidente Barak Obama, na Casa Branca, Lula disse (e fez o gesto característico) que o mandatário americano havia recebido um "pepino" daquele tamanho. Isso é maneira de expressar-se um presidente? Lula deve estar apaixonado por si mesmo, vendo-se a si próprio e não tendo olhos para mais nada. Autocrítica não faz mal a ninguém, mas alguns não têm o dom de saber fazê-la.

Ia-me esquecendo de dizer o quanto enriqueceu a família do Lula. Aliás, não sou eu quem está dizendo, mas o que a mídia tem revelado. Gente capacitada e competente!

Lula e "marolinha" de lado, resta falar de outras "autoridades constituídas" no Brasil. Os políticos safados, com raras exceções, os ministros de estado escolhidos por Lula, os responsáveis por alguns tribunais (como o que está sendo revelado sobre o TRT de Minas e o TCE), prefeitos e vai por aí afora. Que país é esse? Que exemplos de dignidade nos passam os homens públicos? É disso para pior.

Brincadeira. Eu estou exagerando, são apenas "marolinhas".

Augusto Canabrava
Enviado por Augusto Canabrava em 20/03/2009
Reeditado em 19/06/2016
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