O Tatu
Os filhos do seu Dionísio sempre ouviram falar que tatu vivia no cemitério e que comia os defuntos.
Um dia...
- Madalena, olha que tatuzão que o compadre Coimbra me deu!
- Ótimo Dionísio! Vou fazê-lo, ainda hoje, para o almoço!
Madalena limpou o tatu, temperou-o e o assou dentro da sua própria casca, com as perninhas para cima.
Quando os meninos chegaram do grupo escolar Machado de Assis...
- A sua bênção, mamãe.
- Deus os abençoe.
- Mãe, o que é isto? Que bicho é este? Cruz credo!!!
- É um tatu que o seu pai ganhou, Milinha.
- Ta - tu!!! Huummm!.. Eu não como!
- Eu também não!
- E nem eu! Deus me livre!
- Eca! Que nojo!
- Coitadinho dele, mãe!
- Vocês tratem de comer porque tatu é bom e também, porque só tem isto.
- Mãe, não quero comer esse bicho. Frita um ôvo pra mim?
- Não tem mais, Heloísa. Fiz um bolo e gastei os últimos.
No dia seguinte...
- A sua benção, mãe. O que tem hoje para o almoço?
- Deus lhe abençoe, Paulo. Hoje tem tatu.
- Ah não! Esse bicho outra vez!? De novo? Eu não como!
Era um ensopado, muito gostoso, que a mãe tinha feito com o resto do
tatu assado, do dia anterior.
No terceiro dia...
- Mãe, não me diga que tem tatu de novo, pelo amor de Deus!
- Hoje fiz o que vocês adoram, Lena.
- A senhora fez pastel, mãezinha? Ôba! Vou tirar a barriga da miséria!
- Puxa, que gulodice, Célia! Nossa! Só deixaram isso para mim e para seu pai!?
- É que estava uma delícia!
- É mesmo! Estava muito bom!
- Pô, mãe! Hoje a senhora estraçalhou!
- Nem tanto, meu filho.
- O recheio era de que, mamãe? – perguntaram juntos.
- De tatu desfiado, crianças. Não disse que comer tatu é bom?
- Argh!..
- Eca!..
- Huuuummmm!
- Ai que nojo!
- Onde é que eu cuspo?!..
Anna Célia Dias Curtinhas