O Natal Paraense
" No mês de outubro em Belém do Pará,
São dias de alegria e muita fé
começa a romaria matinal, o Círio de Nazaré..."
Na florida berlinda, vê-se do alto dos prédios e sacadas a Virgem Senhora de Nazaré , a caminhada da multidão de gente de todos os lugares desta imensa região amazônica. São idosos, crianças, bebês vestidos de anjo no colo de suas mães,de seus pais em agradecimento à graça de suas vidas, estudantes em promessa ao sucesso nos estudos, estivadores, pescadores, autônomos, servidores públicos, empresários. São pobres e ricos, brancos e negros, a procissão não tem idade, raça, condição social, e sem duvidar, acredita-se que até mesmo o credo não impede ver a esperança, a fé, a gentileza, a fraternidade no semblante daqueles devotos, apenas o sentimento de amor à pequena imagem encontrada por Plácido , um pescador ,a margem de um igarapé, hoje eregido o santuário da Basílica de Nazaré.
Na corda que se estende à berlinda , os mais contritos romeiros a comprir suas promessas de pés descalços numa extenuante força física de segurar um pedaçinho ,mas em significativa intenção da graça recebida. São homens e mulheres suados e exauridos do espaço milimétrico a disputar a densa corda.
São fiéis com cabeças, pernas, pés, velas imensas de cera em simbologia à graça alcançada, à cirurgias bem sucedidas, à saúde reestabelecida de parentes, contra-parentes , amigos que só o povo de fé conhece tamanha importância de ser atendido. Miniaturas de barcos, casas e tijolos, em agradecimento aos barcos construídos, as casas erguidas, sejam elas de madeira ou alvenaria , levados à cabeça no meio da extensa correnteza de pessoas a cantarolar hinos em louvor à intercessora do povo paraense à Deus. É um imenso tapete de gente a discorrer as ruas da Cidade Velha à Nazaré.
" Vós sóis o lírio mimoso
Do mais suave perfume
que ao lado do santo esposo
a castidade resume..."
E lá, vão famílias inteiras, infratores da lei, prostitutas, homossexuais,mendigos todos num só pensamento, numa só vibração de amor e fé. Ninguém pensa o contrário ao outro, pois seria um sortilégio sem tamanha dimensão.
A áurea estratosférica parece menos densa que outros meses do ano. É percepção compartilhada por todos cristãos. Disso só sabe quem já veio nessa época em visita à terra, é unanimidade a recepção, conhecidos que são os paraenses como hospitaleiros, este mês, há a benção da padroeira.
E no Centro Arquitetônico de Nazaré -CAN , vê-se o arraial,o artesanato em todas as nuances,as fitinhas de lembrança da Virgem de Nazaré ,os brinquedos de miriti, os brinquedos do parque,as comidas típicas: tacacá, vatapá, maniçoba, pato no tucupi,caruru, os sorvetes e sucos indescritíveis são iguarias exóticas de sabor paraense.
" Ave, ave, a senhora da berlinda
Ave Maria estes são seus filhos de fé
Ave, ave, Deus te fez a flor mais linda
Ave Maria, és a senhora de Nazaré..."
Nas residências, na sua grande maioria, há sempre uma imagem desta abençoada virgem. E os nomes das filhas nascidas da mais abastada à mais humilde família sempre têm-se, uma Maria de Nazaré ou Nazareth como é o caso de minha avó paterna.
Essa é a imagem de um povo que vem de áreas ribeirinhas de difícil acesso, de barcos , canoas, à pé pelas estradas de piçarra que lembram a rodovia transamazônica, todavia não deixam de homenagear a amada padroeira deste Norte de Brasil.