Maurício de Macedo, um Poeta Plural

Li, não sei onde e nem quando, o livro Canção dos Orixás e me encantei. Era um livro vigoroso, que “falava” dos orixás de um jeito lindo, respeitoso e pelo que me lembro, muito poético. Não conhecia o autor, mas gostei muito do que li e quando alguns anos depois conheci mais de sua obra, minha impressão se alargou: além do vigor, um jeito todo especial de lidar com as palavras, muita doçura, mesmo quando fala de tristeza, de dor ou de outros sentimentos não tão nobres, dos humanos.

Comuniquei-me com ele, algumas vezes, através de bilhetes. Marise, minha amiga e amiga do poeta trazia-me seus livros e através dela, agradecia a gentileza e o privilégio de ser sua leitora. Maurício, dizia ela, tinha pavor de emails e eu, preguiça de usar o telefone.

Poeta, médico-auditor e professor universitário, esse alagoano de Maceió é mesmo um poeta plural. Com 17 livros publicados, a poesia é fio condutor para toda sua obra, mesmo quando trata da história, da crença de seu povo e, principalmente, quando fala do que lhe toca a alma. Destaco de “À beira do Silêncio” quando Moacyr Scliar apresenta o poeta, este comentário: “Leiam Maurício de Macedo. Leiam em silêncio, leiam em voz alta, mas leiam- e vocês descobrirão um poeta surpreendente”. Em carta ao autor, Ferreira Gullar (contracapa de Epifania) diz ”você é poeta de verdade, e dos bons.”

No http://www.tudonahora.com/noticia.php?noticia=6844, o jornalista Roberto Amorim escreve:” Nos últimos anos, o poeta Maurício de Macedo decidiu romper com a tradição dos barulhentos coquetéis de lançamento. Seu ritual agora é silencioso e simples: depois do livro pronto, envia exemplares para amigos e escritores como Ferreira Gullar e Affonso Romano de Sant´Ana. Gente que ele tem certeza que irá ler os versos saídos da sua mente compulsiva pelo ato de fabricar poesia.”

Com a patente especial de ser “Amiga da amiga”, também recebo livros de Maurício e do meu baú de guardados, recuperei um dos meus bilhetes para ele:

MAURÍCIO

O livro chegou pelas mãos de Marise. Li num susto, como quem bebe água no deserto. Começava abril e desde então tenho me deliciado com À Sombra das Palavras. Releio um, releio outro poema, decidindo o que mais gosto, o que combina comigo nesse ou naquele dia.

O bom é que não preciso decidir nada. Tudo encanta. Tudo É. E a cada vez que volto ao livro, me descubro á sombra e á luz das palavras. Ainda bem que posso ao menos agradecer por tanta beleza.

Beijo grande

EDNA LOPES,

Maceió, 28 de maio de 2007.

E hoje, envio por aqui, este recado

Meu caro Maurício

Quero muito parabenizá-lo e também agradecer por sua última publicação, Dispnéia.. Tua intimidade com as palavras é tamanha que me assusta e comove. E, parafraseando outro grande poeta, como leio versos como quem reza, rezei cada um dos teus assim que o livro me chegou, de novo, pelas mãos de Marise, nossa adorável amiga. Rezei e rezo, sempre que posso entre amigos, presenteando-os com, ora o encanto e a beleza, ora a dureza da tua poesia. Obrigada. Agora sei que tens email, tens blog (adorei!), mas Poeta, eu ainda gosto de escrever bilhetes.

Beijo grande

EDNA LOPES

Maceió, 31 de Março de 2009

xx

Pigmalião

Por Maurício de Macedo

Direi junto ao teu rosto

à tua nuca

ao teu ouvido.

Direi como quem deixa cair a semente

e espera que a planta cresça

na pele,

nos olhos,

na língua.

Direi feito deus

- sopro da palavra no barro.

Direi feito Adão

- a metamorfose da carne da palavra

Direi a palavra lânguida,

molhada

deslizando sinuosa

Feito a serpente no Paraíso.

Mais do poeta

http://mauriciodemacedo.blogspot.com/

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/alagoas/mauricio_de_macedo.html