Fotografei no mesmo dia em que ele partiu de mim... 30/03/2009 - Algumas horas antes.

NÃO
DEIXE QUE A FELICIDADE ESCAPE POR UM DESCUIDO...


Escapou do gato, mas não do meu descuido. Estava no chão da praça. O outro, um gato malandro de rua fez dele refeição. Talvez a única do dia...

Quando chegou aqui em casa ainda estava meio assustado, chamando incansavelmente pela mãe. Devia ter uma semana mais ou menos. Certamente a chuva, o vento derrubara o ninho. Era um lindo filhotinho de Coleiro Papa Capim. Um passarinheiro ainda me disse:

“-Arranjo uma anilha pra ele!”

Sim, ave nativa o Ibama só admite criar quem tem anilha, quem é cadastrado como criador amadorista de passeiriformes. Mas, eu não suporto pássaros em gaiolas. Alheia ao que aquele homem disse, eu segredei bem pertinho do coleirinho:

-Não! Você vai ser LIVRE! Eu vou dar-lhe liberdade logo que esteja pronto para voar. Por enquanto vai ficar comigo até que esteja bem. – Foi minha promessa.

E a cada hora, dava papinhas para ele, numa varetinha improvisada imitando o bico da mãe. Toda vez que ele piava, eu o alimentava. Parecia que já me reconhecia como “mãe”, pois ficava quietinho na mão. Aquela coisinha frágil e bonitinha. Abri mão do fim de semana para dedicar-me a avezinha.

Segunda-feira, ele deu um pequeno voo, baixo. Mas, o suficiente para que eu tivesse a certeza de que as asinhas estavam em perfeito estado. Imaginei que mais dois dias o veria livre, reintegrado na natureza...

Enquanto me aprontava para sair, por um descuido, deixei a caixinha com uma pequena brecha. Estranhei não ouvi-lo piar... Quando fui vê-lo, não o encontrei. Procurei por toda a casa, tranquei as janelas preocupada que ele fosse parar na boca das minhas cadelas. Tive a sensação de tê-lo ouvido e fiquei olhando todo canto. Debaixo das mesas, armários, fogão, freezer e nada! Então, acreditei que ele tivesse voado para a mata e fiquei feliz por que estaria livre.

Como tinha compromisso e hora marcada, tive de sair. Mais tarde, quando fui até a cozinha e vi que a vasilha da sobremesa estava dentro da pia com água para amolecer o chocolate, entornei a água e gritei:

- Não, não, não! Foi minha culpa, foi minha culpa! – E chorei como já não chorava há muito tempo... Por três dias havia me dedicado, dado toda atenção aquela avezinha para vê-la morta de uma maneira estúpida!

O pequeno voo de liberdade daquele coleirinho foi interrompido por uma vasilha de pavê cheia d'água... Senti-me culpada pela morte daquela avezinha. Não pude cumprir a promessa de dar-lhe a liberdade...

Meu filho, vendo minha dor, também com os olhos vermelhos por assistir a cena da avezinha dura, esticada me consolou:

“- Mãe, ele preferiu morrer a parar numa gaiola...”

Então, diante da morte daquele avezinha e das palavras do meu menino, vi que a vida é mesmo fugaz e que devemos aproveitar cada minuto, não desperdiçar nenhuma oportunidade ou chance de ser feliz. Não deixar de ficar com quem se quer, não deixar de ir onde quer, não deixar de fazer nada por que de repente você poderá nunca mais ter aquela oportunidade...

Aquela morte, aquela perda parece que serviu para transformar alguma coisa aqui dentro de mim, alguma coisa que precisava renascer, um abrir os olhos, um beliscão, uma sacudida, um grito para não perder a boiada... Alguma coisa assim. E eu me sinto mesmo diferente.

Vejo que não adiarei mais nenhum compromisso por pensar sempre no outro e esquecer de mim; não desperdiçarei mais tempo, mais oportunidades, pois sei assim como a vida daquela avezinha, certos momentos de ser feliz, nunca mais voltarão e poderei chorar por uma perda por conta de um pequeno descuido meu...

Amigo leitor, hoje não pergunto nada... Hoje eu o aconselho: Não deixe de ser feliz agora, aproveite os momentos, as oportunidades, corra atrás dos seus sonhos, não deixe que a sua alegria morra!

Imagem retirada da busca Google