Monólogo de confidências

Monólogo de confidências 2

Entendam como é a vida: comecei tarde para levar as coisas a sério, e extrair de dentro de mim aquilo que há tanto tempo me atormentava a mente. Queria escrever livros, abraçar a literatura por inteiro, entrar no mundo das letras, mas por falta de oportunidade fui deixando o tempo passar, fui deixando... deixando... Até que tardiamente resolvi regaçar as mangas e pôr mãos à obra. Peguei a minha velha máquina de escrever abandonada e esquecida num canto do escritório, e meti os peitos. Ao vê-la, notei que ela nunca teve muito trabalho, por isso conservava limpa, tanto por fora como dentro, principalmente nos seus preciosos tipos; tudo funcionando bem. Dei nela uma pequena lubrificada, preparei os dedos para o trabalho e, pronto! “Mãos à obra, seu preguiçoso”, monologuei. Depois de algum tempo de trabalho, ela ficou irreconhecível, pois seus tipos encheram-se de tinta de carbono e resíduos de borracha; quase não dava para ler. Por fora ficou toda respingada do “branquinho”; os tipos dela então... Era o sinal de que ela estava trabalhando muito. Todos os dias eu limpava tipo por tipo, senão não dava nem para ler o texto que ficava quase ilegível. Contudo, ela escreveu o meu primeiro livro, mas naquele negócio de estar sempre apagando palavras com a borracha, com “branquinho”, ou arrancar a folha de papel e começar tudo de novo, estava me deixando louco... Na máquina não tem como consertar o que está errado, tem que pensar bastante antes de datilografar, porque consertar ou modificar o texto, não dá. Mas já pensou rascunhar num papel, riscar para encaixar outras palavras, novo parágrafo, ou reescrever o texto, e somente depois que ele estivesse absolutamente certo é que passaria para a máquina... Quanto tempo ia levar? A mente é rica de vocabulário e de idéias, então a todo momento, novas palavras e novas idéias surgem na cabeça. É um tal de apaga aqui, apaga ali e às vezes para terminar uma página, levava quase um dia inteiro. O pior é que na revisão, certamente o texto seria modificado. “Este parágrafo não está muito bom, tal palavra caberia melhor aqui ou ali”. Aí, rasgava-se o texto e jogava-se no lixo.

É quando me lembro dos velhos escritores, no tempo em que ainda não existia o computador; quanto trabalho eles tiveram... Recordo-me ainda, do nosso Mestre Rui Barbosa, no seu discurso na colação de grau dos formandos da Faculdade de Direito da São Francisco, “Oração aos moços”; ao ler e reler o seu discurso original escrito à mão, notei a grande quantidade de palavras e frases riscadas e modificadas... Então, até o famoso Rui, mestre das letras, também fazia correções em seus textos. Mas como eu sou insistente e teimoso de nascença, levei quatro anos para escrever o meu primeiro livro. Uff! Que trabalhão! Quando iniciei o meu segundo livro, não agüentei mais e entreguei os pontos; Fui forçado a aderir ao computador sem saber como pilotá-lo. Eu não me relacionava bem com esse cara, mas tanto insistiram comigo que acabei comprando a tal máquina. Não teve jeito, comprei mas sem entender “patavina” o seu funcionamento. O cara que me vendeu, deu apenas algumas instruções e se mandou. Como guardar na mente instruções passadas em dois minutos?Eu fiquei ali abobado de boca aberta sem saber como começar. Então enfrentei esse “cara” que estava à minha frente olhando para a minha cara, como se estivesse debochando, ou zombando de mim. Olhei firme para ele com uma cara de quem não estava gostando; mas com as mãos trêmulas, comecei a digitar com os dez dedos, conforme era meu costume na velha máquina. Mas que fora danado! Não consegui escrever nadinha! Daí, fui obrigado a catar milho com dois ou três dedos. Que diferença da minha velha máquina, com ela eu não digitava, datilografava com dez dedos e com rapidez. Sem falsa modéstia, sempre fui um exímio datilógrafo, diplomado. Mas no computador quanta coisinha intrometida estava ali no meio do teclado, onde não deveria estar..

Mas eu não entendia bem esse “cara”, ou era ele quem não me entendia? só sei que não estávamos combinando bem. Tive vontade de quebrar aquela “porcaria” e voltar para a minha velha máquina. Mas como nunca deixei nada na vida sem terminar, continuei a insistir com o “cara”, fui obrigado a catar milho mesmo... “Mais que merda, isso não funciona”, toda a hora tinha que parar e levar na assistência técnica para ver o que estava acontecendo... É claro que eu pensava que era defeito da máquina, não meu, mas não era nada disso, eu é quem não me dava bem com o “sujeito”. Mas com essas idas e vindas na Assistência, até que foi bom porque cada vez que eu ia lá, aprendia um pouco e assim fui aprendendo a entrar num mundo novo e virtual. Falavam comigo: “por que você não entra para uma escola de informática”? Eu??? Que idiotice! Entrar para uma escola só para aprender essa coisa simplória? Never! Isso é para quem quer aprender a profissão de técnico.

A velha máquina permanecia numa mesinha de rodinhas própria, num canto do escritório, e de vez em quando eu dava uma olhada nela; custava resistir a tentação de voltar para o meu antigo amor. Mas aos poucos fui fazendo as pazes com o “cara” e desenvolvendo os meus conhecimentos; até que não levou muito tempo... Depois de uns trinta ou quarenta dias passei a olhar o “cara” com bons olhos. Que beleza! Ele envia e recebe mensagens. Passei a bater papo em tempo real com amigos, e dessa forma, acabei por descobrir que ele não era mau, precisava apenas que tivesse um pouco de paciência... Tornei-me seu amigo.

Uma vez, ao levá-lo na Assistência, aconteceu um desastre. Quando lá voltei para pegar a máquina, o técnico me informou que foi forçado a formatar a máquina porque ela estava com vírus. Ai, ai, ai, ai, ai... e os meus arquivos foram copiados? Perguntei.

_Lá se foram eles, todos apagados, respondeu o técnico.

_Como assim? E os meus textos escritos, como reavê-los?

_ Não tem mais jeito, o senhor não tem cópias deles? Perguntou o técnico.

_Não, respondi, porque eu haveria de ter cópias?

_Ah! No computador tem que tirar cópias dos arquivos com disquete...

_Mas antes de formatar apagando os arquivos, o senhor é quem deveria tirar as cópias, pois se tratava de textos de livro e não qualquer bosta!

_Eu nem sabia o que era disquete e nem como lidar com isso...

Saí de lá bufando de raiva, e além de tudo ele me disse que tinha que pagar o serviço. Eu respondi que ele acabou com os meus textos, vou ter que reescrever tudo de novo e ainda por cima queria cobrar o que ele desfez? Se você insistir, eu é quem vou cobrar uma indenização na Justiça.

Sai carregando o computador, morrendo de raiva, sem dar mais satisfação e sem olhar para trás.

Por sorte, ao procurar nos cantos da sala, encontrei algumas páginas guardadas em um canto da gaveta da escrivaninha que eu havia guardado, escritas na velha máquina. E com isso, pude reaver alguma coisa dos arquivos. Mas mesmo assim, tive que reescrevê-los quase tudo, pois aqueles textos estavam superados. Só aproveitei a idéia.

Assim aos trancos e barrancos me ambientei com o computador e acabei ficando amigo dele. Isso porque a cada vez que o levava na Assistência Técnica, eu acabava descobrindo e aprendendo coisas interessantes; no final, cheguei na conclusão que no computador eu tinha maiores condições de escrever meus livros e com maior rapidez.

Esse foi o meu início na computação, passei muita raiva, mas no final acabei por fazer as pazes com ele e, hoje ele faz parte da minha vida.

Ao fazer uma análise própria dos meus trabalhos, acho que não sou nenhuma sumidade na arte das letras e literatura, mas por outro lado, também não me considero um escritor tão ruim.. Só lamento o fato de não desfrutar da vantagem de ser conhecido da mídia por falta de divulgação, ou por não ter a retaguarda de uma boa Editora para editar e promover meus trabalhos. Assim é a vida do escritor: se ele escrever uma grande obra mas não é conhecido na mídia, ela se perde no vazio e o mundo pode deixar de conhecer uma boa obra e um bom escritor. Por outro lado, se for um artista de televisão, jornalista famoso, galã de novela, ou jogador de futebol famoso, qualquer merda que escrever, chove de Editoras querendo editar o livro e divulgá-lo. Logo o Brasil inteiro vai querer comprar o livro, mesmo sendo “merda”,

Há tempos, ganhei de presente um livro de um artista famoso de televisão; comecei a ler e não agüentei ir até o final, era uma merda sem pé nem cabeça, pois não tinha enredo e não dava para entender nada e o nome do livro nada tinha a ver com o seu conteúdo era de fato uma verdadeira bosta e um abuso à inteligência do ser humano. Acontece que essa pessoa tem um programa na televisão, a todo momento a divulgação do livro estava no ar. A pessoa que me presenteou, depois me confidenciou que também não conseguiu ler até o final. “Mas que cara de pau”...

Há pouco tempo uma Editora teve a idéia de chamar uma prostituta para ela contar sobre os seus melhores momentos na prostituição. Pois bem, ela não era escritora, claro, só teve que contar as passagens mais “interessantes” de sua vida profissional ao jornalista. Quem escreveu o livro foi a própria Editora, mas levou o nome da prostituta para influenciar o leitor; levou o nome de (Diário de uma Prostituta) esse livro foi amplamente divulgado pela mídia vários meses ininterruptos. Sabem qual foi a tiragem do livro? Pasmem! Cinqüenta mil exemplares cercado de uma ampla divulgação em torno dele: o resultado não podia ser outro; em pouquíssimo tempo foi esgotada a primeira edição.

Mas coitado do escritor que escreve um livro, sem uma grande editora na retaguarda para divulgar e distribuir sua obra. Ele terá que bancar sua obra e ainda por cima, terá que se transformar em vendedor de livros, se quiser vender alguns.

A vida literária é assim: você pode escrever o melhor livro do mundo, mas se não houver divulgação não venderá nadinha. Tem outra: além disso, o autor tem que sair por aí divulgando seu livro, isto é: se ele tiver boas condições financeiras. Lembro-me que um ex-Presidente famoso escreveu a pouco tempo um livro, por sinal, uma boa obra. Pois bem: ele viajou por esse país afora fazendo conferências, visitando canais de televisão, jornais e etc. quase todos os dias via-se o ex-Presidente na televisão, tudo isso para divulgar seu livro. Mesmo assim, nem sei se foi bem vendido; não ouço ninguém falar dele. Veja a dificuldade para vender livros, mesmo sendo um ex Presidente famoso.

Em certa ocasião, eu encontrei o famoso escritor e artista Plínio Marcos, em plena Rua Barão de Itapetininga, em São Paulo, sentado sobre um caixote, tranqüilamente com os pés descalços atrás de outro caixote improvisado de mesa. Sobre a “mesa” improvisada havia três pilhas de livros e outros espalhados sobre ela. Ao ver aquela cena, me chamou atenção. Parei junto à sua “mesa”, dei uma olhada em um de seus livros e perguntei: “Já vendeu muitos livros hoje”? Ele me deu uma boa olhada com um sorriso nos lábios e respondeu: se você me comprar um, será o primeiro. Como eu estava sem dinheiro, acabei não comprando. Vejam: tratava-se de Plínio Marcos, famoso escritor, artista de televisão e teatro, não era um escritor qualquer, como eu. Conclusão: escrever livros não é difícil, o difícil é comercializá-los.

Hoje, pode-se contar nos dedos os escritores que vendem livros. Acho que depois de Drummond de Andrade, Jorge Amado, e hoje Luiz Fernando Veríssimo, não resta mais nenhum escritor normal que vende seus livros, a não ser um ou outro da mídia, que a Editora interessa promover.

Falando de mim próprio como escritor, tenho facilidade de sentar-me ao computador e deixar a mente se encarregar de jogar os textos na máquina. Aperfeiçoei minhas escritas, adequadas às crônicas, contos e histórias literárias, sem muita “lengalenga”. Não sou como muitos escritores que levam meses e anos para escreverem um livro e, muitas vezes com conteúdo claramente visível com o intuito de espichar o número de páginas. Sabe como é... Um jeito fácil de tapear o leitor.

Bem, continuando a minha história, o mais recente livro que escrevi, foi escrito em dez dias; verdade! Apenas dez dias e mais uns quarenta dias para reescrevê-lo, revisando-o e lapidando-o de cabo a rabo; por incrível que pareça, este livro bateu o recorde de tempo para ser escrito, e eu o considero um dos melhores livros que já escrevi, trata-se de um romance. As manifestações de apoio e elogios recebidos pela Internet, de leitores e escritores de todo o Brasil é que me incentiva na arte de escrever. Quem conhece algum dos meus trabalhos, tece os melhores elogios não só ao escritor, como também à minha pessoa física. Assim, repentinamente transformei-me em escritor-poeta e romancista, ignorando todos os empecilhos da minha vida literária e particular. As histórias formuladas pela minha mente contadas em minhas obras estão lá dentro do poço, num cantinho qualquer do cérebro. Abri as cortinas da mente deixando as velhas crônicas e contos polêmicos para trás, (mas não abandonados), e adotei um novo estilo literário. Pois o cérebro é um celeiro intelectual inesgotável, não só de conhecimentos, mas também com capacidade de criar fantasiosas histórias de todos os gêneros. Entretanto, é preciso encontrar a chave da porta para abrir essa caixinha de segredos.

Assim, encontrei um renovado estilo literário. Hoje, escrevo sobre qualquer tema, no estilo poético ou literário. Minhas obras são lidas por este país afora, mesmo sem divulgação ou sem serem expostas em livrarias, mas apenas pela Internet, o que muito me envaidece.

05/04/2009 –

Luiz de Carvalho Pádua

Luiz Pádua
Enviado por Luiz Pádua em 05/04/2009
Reeditado em 19/04/2009
Código do texto: T1524608