JK. FIAT JUSTITIA

"Gratidão é algo que não tem paga, mas tampouco se apaga"

SerPan

A minissérie que a Rede Globo há pouco apresentou sobre JK e os “anos dourados” do Brasil, diga-se logo irretorquível quanto à fidelidade histórica e excelente no que tange à qualidade interpretativa dos atores e reconstituição de época, teve o condão maior de mostrar para as gerações mais novas o gigante que foi Juscelino Kubitscheck, não só como pessoa humana, mas também como homem público dos mais criativos, prolíficos e honoráveis, a tal ponto que hoje, à quase unanimidade, os políticos citam seus feitos e feições morais, exalçando-as, e muitos se arvoram a ele igualar-se, mera pretensão!

Antes de mais nada Juscelino foi médico de excepcional zelo e proficiência, trabalhando como tal por cerca de treze anos, até se deixar picar pela mosca azul da política, em sua mais digna e salutar expressão. Suas obras, feitos e realizações foram tantos e tamanhos que seu governo ficou carimbado como “a Era JK” e teve a fortuna, até, de mudar o ânimo e o humor dos brasileiros. Seu dístico “50 anos em 5”, consubstanciado em um Plano de Metas ambicioso e arrojado, foi plenamente cumprido e até ultrapassado, eis que até hoje segue produzindo frutos e grandezas para o País. E mais, Nonô, terno apelido da infância, foi um estrito seguidor dos ideais democráticos e um conciliador por princípios e decisão. Algo difícil de se ver então.

Mas foram duas obras, principalmente, que marcaram indelevelmente seu governo e frutificarão para sempre. A construção de Brasília, em pleno cerrado do Planalto Central, ungida como capital da República, mudando a sede das decisões nacionais para ponto equidistante deste imenso pernil brasílico.

Paralela e contemporaneamente, a abertura e viabilização viária da estrada de integração nacional, tida por inexequível, que ajuntou, na plenitude, o Norte com o restante do País - não fora ele “o artista do impossível”.

“Como memória e gratidão são artigos raros, é bom lembrar que nossa terra deve muito a JK. A construção da Belém-Brasília, que tirou o Pará do isolamento, nos torna, pela coragem do empreendimento, eternamente devedores de JK. Aliás, foi ele quem quis que a estrada se chamasse Belém-Brasília e não Brasília-Belém. A idéia era valorizar o Norte”. Para nós, esta foi sua obra magna, a mais arrojada e desafiadora, porque rasgou a floresta virgem e por ter anexado, na plenitude, a Amazônia ao Brasil, garantindo para o País sua ordenada utilização e exploração (no bom sentido, obviamente), sua posse real.

JK foi, sem ponta de dúvida, o presidente da República que mais fez pelo Pará, máxime por Belém. Malgrado todos os benefícios que essa colossal via de tráfego nos propiciou, mormente para Belém, ponto fulcral de seus préstimos, é penoso, mas imperioso dizer, nada aqui se vê que homenageie o diamantino Nonô. Nenhum logradouro ou edifício público, uma escultura, nada! Até um modesto e diminuto busto que encimava tosco e acanhado pedestal, assentado no início da Av. Almirante Barroso, de lá sumiu, ninguém sabe, ninguém viu, como diz a canção.

Numa terra em que entes forâneos nacionais e até estrangeiros de duvidoso merecimento nomeiam praças, vias e viadutos, raia pelo absurdo o desamor, a ingratidão de seus filhos por seu benfeitor maior. Uma nova praça, um edifício público de expressão, uma artéria de tráfego importante, um monumento estatuado, um obelisco à feição do de Brasília, um portal. Algo que nos faça relembrar nosso integrador, o estadista JK. Corrijamos esse desleixo intolerável que macula nossos brios de urbanidade e reconhecimento, senhores legisladores e administradores, dando seu honrado nome, por exemplo, ao novo Portal da Amazônia, em construção, ao prolongamento da antiga Primeiro de Dezembro (atual João Paulo II) ou ainda - e por que não? - ao complexo do Entroncamento. Mãos à obra, senhores! Faça-se justiça!!

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Médico e Escritor. ABRAMES/SOBRAMES

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Notação: texto publicado originalmente no jornal O Liberal (Belém), ed. 20/fev/2006; inserido nos Anais da Câmara Municipal de Belém por proposição do vereador Zeca Pirão

Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 06/04/2009
Reeditado em 09/08/2010
Código do texto: T1526331
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