Olhos fixos...

Fixou-se diante do espelho, observando seus olhos, sua alma, suas entranhas...

Percebeu os caminhos, onde por tantas vezes esteve de joelhos, colhendo frutos podres, de sementes estéreis...

Percebeu os sinais que lhe indicavam a escravidão da solidão dividida, do sentimento não compartilhado, das dores viscerais diante de olhares mudos, de palavras cruelmente expostas ou silenciadas...

Permaneceu quieta, atormentando seus sonhos, sepultando suas esperanças, tornando-se descrente de si mesma...

Emprenhou-se da descrença, do amargor, de palavras duras, cravando em seu ser a totalidade inebriante e cruel do medo...

Dos olhos que um dia brilharam de esperança, permaneceu o brilho do amor pela vida...

Do rosto coberto de suavidade e ingenuidade, restou a suavidade de saber-se viva...

O que restou dela? O que era hoje? No que acreditava?

Já não conseguia saber... Tornou-se desconhecida do seu próprio eu...

Talvez tenha medo de descobrir-se crédula... De tornar-se sonhadora...

Medo de ressuscitar esperanças...

No fim, restou-lhe a certeza que de tudo que viveu, permaneceu o medo...

Definhou-se...

Angela Leite
Enviado por Angela Leite em 08/04/2009
Código do texto: T1528195
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