BOLO DE AMOR

-Meu bem, que trem esquisito é esse, enrolado na toalha?!

-É o despertador que enfiei no armário, para você dormir mais um pouquinho, querida.

-Credo! Parece macumba!

-Êpa! Eu nunca mexi com isso, não!

-Nem eu!

-Então, como você fez, há quarenta e dois anos, para me pegar,hem?

-Nada. Só pedi a Deus um moreno bonito, alto, de olhos verdes e Ele me atendeu.

-E o que é que você botou naquele bolo esfarelado, que levou para mim, naquela tarde?

-Coloquei muito amor e ele ficou fofinho, fofinho.

Aí, enrolei-o num pano de prato clarinho, o mais bonito que a mamãe tinha, coloquei-o numa sacola, pendurei no guidom da minha Caloy e fui.

Na rua do Camilão, trombei com outro ciclista e o bolo caiu no chão, debaixo de mim.

Briguei com o moço, não por conta dos meus joelhos e cotovelos ralados, mas, do bolo, que eu havia feito com tanto carinho para você.

-E daí?

-Uai! Esqueceu? Cheguei à sua casa tão sem graça, mas tão sem graça, que nem queria mostrar o bolo, mas sua mãe disse:

-Despeje-o aqui, neste prato, minha filha. Hum... Deve estar delicioso. Vou pegar os pratinhos e as colheres para o comermos junto com o café, que acabei de passar.