QUANDO OS MORTOS SE CALAM...

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Minha vida nunca foi fácil,também se fosse não sei o que seria dela.As pessoas têm muitas esperanças em conseguir realizar sonhos.Para mim basta estar vivo.Desde criança,a dura lida me mostrou que eu tinha que lutar.Comida pouca,muitos filhos,meu oai num desespero só para poder dar o de comer.Nunca reclamamos da escassez de alimento em casa.Para ter alguma coisa para comer,quase sempre íamos ao mercado central de nossa cidade para pegar as sobras que iriam ser jogadas fora.Às vezes durava uma semana a colheita do dia.Com muito esforço consegui terminar os estudos e tive muita angústia e raiva por não ter feito nada pelas minhas irmãs que se perderam na vida.Da época dura ,de falta de tudo que você puder imaginar guardo alguns ensinamentos que a vida me impôs.Meus pais morreram e os parentes não puderam dar a ajuda que precisávamos,alguns estavam em pior situação que a nossa.Nós praticamente não existíamos para o mundo,ele passava na televisão e era como um anestésico para as nossas almas.No fundo querem que as coisas continuem assim.Distraem-nos do que é essencial.A vida propriamente dita é para pouquíssimos,no mais os outros vegetam e eu e minha família mais ainda do que vegetar fazíamos:esperávamos a morte chegar,mas nem tudo dura para sempre,às vezes piora muito antes de talvez melhorar.Quem pode garantir alguma coisa nessa vida?

Comecei a trabalhar depois que passei em um concurso público e vi alguma chance de melhorar a minha vida.Casei,tive dois filhos.Minha mulher foi uma guerreira incansável na ajuda de casa fazendo alguns bicos como diarista ou o que aparecia para fazer na casas das pessoas.A minha saúde nunca foi boa,desde a infância carregava os flagelos da pobreza.Bebia socialmente e aos poucos,sem exageros fui me acostumando a beber mais e mais.Com a idade,e olha que não sou tão velho,tenho apenas cinquenta anos.Muitos amigos e inimigos colecionei ao longo dessa minha vida.No trabalho,nem todos gostavam de mim e isso não era problema,pois estava lá para trabalhar e só.Mas o ser humano,é bicho peçonhento e sempre gosta de ver a desgraça alheia.

Descobri que estava com diabetes e precisava seguir uma dieta rigorosa,mas o hábito da bebida e outros vícios que a gente sempre carrega nessa vida,fizeram-me negligenciar a minha já frágil saúde.Adoeci e fui internado,não era a primeira vez,achava que saíria dessa muito bem quanto das outras vezes.Depois de alguns dias internado,fui liberado sob a condição de cuidar efetivamente daquilo que nunca tive ou que por força da maldade de que é responsável:viver .Não estava me sentindo muito bem,uma certa tarde e fui comunicar ao meu chefe imediato e ele pouco se importou.Imaginara que eu estaria querendo sair para tomar alguns goles.A gente cria fama e depois fica difícil para crerem no que falamos.Quando alguém morria e era um conhcido nosso um colega do dia a dia ou mesmo que não fosse,as pessoas,poucas,faziam pouco caso e ignoravam ter conhecido.Nós estamos nos tornando número,máquinas substituíveis.Era difícil ver aquilo e não pensar em nada,mas até a nossa sensibilidade querem nos tirar.

Será que quando eu morrer vão me fazer alguma homenagem,vão respeitar o que fui em vida?Não sei responder por que meus olhos não se abrem mais,talvez tenha alguém da família me velando.

LÉO VINCEY
Enviado por LÉO VINCEY em 09/04/2009
Código do texto: T1530999
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