COMIDA DE CAMPING

Costumava acampar.

Nada de camping civilizado com ar condicionado e TV a cores. Mas aquele selvagem onde era necessário levar comida e água potável. Onde a montagem da barraca desafiava mais de duas horas de intenso trabalho no meio de praia deserta ou floresta virgem.

Sol, chuva, suor e cansaço faziam parte da rotina. Mas amava tanto esse tipo de aventura que cheguei a comprar uma perua rural para transportar com mais facilidade toda tralha.

A comida desafiava os espíritos. Precisava ser improvisada no ato com o que se podia obter ou conservar, preparada em toscos aquecedores portáteis.

O prato carro-chefe sempre foi o macarrão. Molho de tomate com atum ou sardinha. A fome completava os temperos que faltavam.

E onde geladeira não entrava, as latas completavam as opções. Uma de palmito e outra de ervilhas. Batatas apenas cozidas na água, vinagre, sal e azeite. Eis uma magnífica salada de entrada, para campista nenhum botar defeito.

Um peixe sem nome acabado de pescar, comprado ali na praia, cortado em postas e cozido em molho de tomates. Arroz e pirão. Algo fácil e delicioso para nunca mais esquecer.

Se fazia frio uma sopa era a comida de rigor. Um panelão de água, batatas, cenouras, feijão ou lentilhas, tudo que era verdura que conseguia obter, algum pedaço de carne e fogo. Duas a três horas de lento borbulhar naquele arremedo de fogão. A vontade só era saciada com dois ou três pratos repletos dessa deliciosa mistura.

O café da manhã era magnífico. Pão de forma, margarina, café, leite condensado, queijo, presunto, alguma fruta quando possível, geléias e biscoitos de todo tipo.

Nada a reclamar.

As noites eram quentes. O suor intenso. Dormia-se tarde e levantava-se cedo, com o raiar do dia.

Eram programas desgastantes com sacrifícios malucos. Mas gostava. E, tão logo voltava para casa já estava pensando em outra excursão.

O tempo passou e a situação mudou.

Confesso que hoje quando tenho que viajar pergunto primeiro se o quarto do hotel tem ar condicionado. E se o chuveiro possui aquecimento central. Quero saber quem elabora as refeições e qual o tipo de cozinha. Porque, não escondo, sacrifício e desconforto não se incluem mais nos meus planos. Prefiro não sair a enfrentá-los.

Mas outro dia conversava com uma amiga. De avançada idade e dotada de incomum inteligência e perspicácia.

Falava sobre o período da vida em que era vidrado nesse tipo de aventura. E de como o tempo nos leva a mudar.

A conversa corria solta e acabei por resvalar para outro tema polêmico dizendo-lhe que conseguira atravessar toda a adolescência e os anos seguintes incólume: permanecendo solteiro. O que acredito seja uma das melhores opções de vida.

Foi quando ela parou para pensar e depois, calmamente disse: “Pedro, a gente só casa na época que adora acampar!”

Foi uma afirmação profunda. E ainda continuo tentando entendê-la inteiramente.