Paixão de Cristo

A cada ano, quando chega a Semana Santa, meu espírito vivencia quase um ritual que se cumpre por força de aprendizado e devoção. Minha infância foi rodeada destes ensinamentos enquanto minha alma se identificava com as nuances que pressentia em cada dogma, em cada exercício de fé.

O tempo passou, minhas queridas mestras se foram e eu continuo a experimentar os mesmos sentimentos, emocionando-me demais nestes dias pela profunda consciência que me envolve do sentido da vida.

Ao acompanhar a procissão de Cristo Morto, vou aprendendo muito observando as pessoas que caminham ao meu lado; os semblantes tão variados, alguns com o ar de puro arrebatamento, outros como se estivessem agradecendo em atos as amplas graças que receberam; percebo em outros a expressão de dor, ou de agonia, embora não haja desespero porque ali está presente a fé! Meus companheiros de procissão, irmãos que partilham a vida de modo singelo, nesta fração do tempo em que caminhamos junto a Nossa Senhora seguindo Jesus...

Ah! Pudesse eu colocar em palavras tudo que me vai ao coração nestes momentos!

Enquanto cantamos, oramos e refletimos, algo mágico parece nos cingir, alcançando-nos sem nos tocar, enlevando nossa consciência, ampliando-a por segundos, fazendo com que percamos o sentido de nossos limites... É como se flutuássemos sem sair do lugar...

Talvez, só talvez, neste raro momento, toquemos verdadeiramente o “manto” de Cristo e nossa alma a ele se junte de forma tão natural que não estranhamos nem nos surpreendemos... Apenas nos submetemos a esta união.

Quem tem a felicidade de experimentar algo similar; quem tem a graça de poder participar desta procissão, sabe do que estou falando e deve concordar que é um ritual belíssimo, repleto de significados sutis que atuam diretamente em nosso cotidiano, transformando-o em algo mais que rotina!

Assim, a Sexta Feira Santa com suas experiências cristãs, torna-se um dia especial. Um dia em que nos sentimos mais circunspectos e afeitos ao recolhimento, de tal modo que possamos nos abrir para novas percepções do significado da vida. E neste contexto evidencia-se o valor e lugar da solidariedade... Eis o que me vem de forma tão clara e precisa após esta experiência religiosa.

A Paixão de Cristo tem muito a ver com nossa capacidade de sermos articuladores, e agindo assim, instrumentos de conciliação em todos os aspectos de nossa vida. Uma responsabilidade e tanto, não acham?

Que possamos todos nós abrir o coração e a alma sem receio, sem reserva, e partir para a ação efetiva da verdadeira fraternidade. Sermos éticos, nobres de intenções e predispostos a servir, a colaborar, eis o caminho de quem quer imitar Jesus, seguindo seu exemplo.

Ontem foi um bom dia. Partilhado com a família e com o próprio Jesus.

Desejo a todos uma boa noite e que possamos nos encontrar sempre na senda da evolução.

Priscila de Loureiro Coelho
Enviado por Priscila de Loureiro Coelho em 13/04/2009
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