QUEM CALA, NÃO CONSENTE

QUEM CALA, NÃO CONSENTE

Maria Teoro Ângelo

Desde que as sociedades humanas se formaram, os homens detiveram o poder. Não por serem mais inteligentes, mas porque eram mais fortes. A força física era muito mais importante para a caça e para a guerra do que a fragilidade das mulheres, nem sempre disponíveis pelo fato de que a elas cabia o papel de gerar filhos e manter a continuidade da espécie.

Quando a força física deixou de ser imprescindível à sobrevivência e as civilizações foram se estruturando, o homem passou a ter mais outro poder: o econômico. Quem paga, manda. E ele soube mandar. Ainda percebeu que era muito mais cômodo e vantajoso fazer as leis em benefício próprio, pois sabia, por intuição gravada nas células, que a mulher oferecia grande concorrência. Assim, a mulher foi rebaixada ao segundo plano, como ser inferior e ao qual cabiam tarefas tidas como fáceis de executar: cuidar da casa e dos filhos, fazer algum trabalho manual. E principalmente não ter vontades, apenas servir ao marido, que, afinal de contas, era o seu provedor.

Sabemos que sempre há exceções e que a História não é feita delas, mas do pensamento dominante que norteia os rumos da humanidade .Os costumes, a maneira de se comportar de geração em geração cria um entorpecimento e as mulheres, de um modo geral, agiram como se esperava que devessem agir. Por medo, por comodismo, por passividade, por aceitação, por dificuldade em mudar a ordem das coisas.

Em todos os movimentos sociais há os que carregam as bandeiras, que lutam no lugar daqueles sufocados pela impossibilidade de tomar posições. No caso da luta feminina por um lugar ao sol não foi diferente.

Dentro de cada mulher sempre houve uma revolta calada , um desejo de mudar o seu destino e deixar de representar o papel de coadjuvante no casamento e de figura apagada e sem voz na sociedade. Quem ousou infringir o código, pagou muito caro. Para cada conquista sofreu o preconceito dos homens e pasmem: das outras mulheres.

Até hoje ouvimos mulheres dizerem que não confiam em profissionais mulheres, principalmente quando elas desempenham funções até há pouco essencialmente masculinas: advogadas, médicas, juízas, engenheiras, comandantes de aeronaves, etc, etc, etc. E cada vez mais vemos o desabrochar de mulheres altamente capazes, o que vem reafirmar que faltavam apenas as chances de mostrar o seu valor

Mulher não é melhor do que homem ou vice-versa. Tanto um quanto o outro podem ser bons no que fazem. A diferença é que sempre se pensou que mulher não podia.

A força física que norteou o domínio masculino ainda se manifesta através das agressões das quais muitas mulheres são vítimas. A sociedade ensina que elas devem denunciar os seus parceiros selvagens. Mas quantas teriam coragem de se expor, de destruir a família, de ficar sozinhas ou de correr risco maior? A grande maioria espera que alguém lute em seu lugar enquanto remói a insatisfação na mudez a que se julga condenada.

De responsável pelo pecado original, passando por espécie de segunda linha, nascida para obedecer, sem direito ao estudo, proibidas de votar, de ganhar seu próprio sustento - fator importante para deixar os parceiros - até as conquistas cada vez ousadas dentro do panorama sócio-político-cultural, as mulheres nunca consentiram. Foram apenas proibidas de falar.

13/03/2006

Lillyangel
Enviado por Lillyangel em 11/05/2006
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