TONHE BANANA

Retomo as minhas crônicas numa nova casa. Faço isso com muita satisfação e agradeço aos jovens amigos do Guia Poções/Extra Poções (www.guiapocoes.com.br) pela oportunidade e o espaço concedido. Terei a oportunidade de partilhar com os leitores as histórias de Poções e trazer ao convívio pessoal de tantos, as boas épocas em que vivemos juntos. Incluo aqueles outros amigos que “conhecem” a nossa cidade de ouvir falar e que se encantam com as histórias.

Deveria iniciar essa nova fase escrevendo coisas alegres e engraçadas, mas a vida nos apronta e não posso deixar passar em branco a lembrança de um velho amigo, de Poções, ligado diretamente ao meu passado, que deu a sua colaboração musical à cidade.

Na noite de 11 de janeiro passado, recebi a notícia do falecimento de Antônio Fagundes Filho, o nosso Tonhe Banana, ocorrido em São Paulo. Na semana anterior, ele passara por problemas súbitos de saúde e uma cirurgia. Para minha alegria, soube que havia tido uma discreta melhora, mas não resistiu e acabou falecendo. Morava na cidade de Santa Isabel, interior de São Paulo.

Tonhe Banana foi um dos amigos que consegui reatar e manter contato direto após a publicação das colunas na internet. Sempre me relatava a saudade que sentia de Poções e das lembranças do passado. Mandou um e-mail dizendo que as crônicas o faziam chorar e eu, impiedosamente, mandei outro texto ainda mais saudoso. Em uma delas, falava do carnaval que passamos juntos, lá pelo início da década de setenta, quando chegou de São Paulo em um Opala cupê vermelho, daqueles que tinham uma proteção de plástico preto no teto, som de toca fitas Mitsubishi (auto-reverse) e ar quente. Transformamos o automóvel em “carro de som” e fizemos do Chamuscão a nossa base.

Quando casei, ele me apanhou no aeroporto de Congonhas e não deixou viajar para Campos do Jordão naquele dia. Justificava que a saudade de Poções era tamanha e quando chegava alguém de lá, queria ficar conversando todo o tempo. Recentemente, prometi visitá-lo. Comentou que havia se apaixonado pela simulação de vôos e adorava ver o campo de aviação na tela do computador com o nome gravado por ele “Aeroporto de Poções” e brincou comigo: – Vamos tentar descer lá!

Tonhe era filho do velho Toe Fagundes, um dos grandes músicos da Filarmônica de Poções. Foi fundador da banda “Os Fantasmas”, junto a Sandoval, Lourinho, Albérico, Zé Tenaz /Jeová e Pia – sem dúvida, a primeira banda de Poções a tocar as músicas da jovem guarda.

A gente tem sempre a lembrança das pessoas e, principalmente, algumas imagens de fotografias na cabeça. Essa composição de “Os Fantasmas” está gravada nas fotos da exposição de Zé Onildo, onde todos vestiam camisas e calças pretas, tocando no velho clube da praça do Obelisco [atual Praça da Bandeira, onde fica a Prefeitura].

Em dezembro, recebi o seu último e-mail que informava as férias coletivas da sua empresa (Turma do Conserto) até o dia 05 de janeiro.

Certamente, está nos olhando lá de cima, daquela Poções do céu. Perdemos mais um apaixonado pela nossa terra, um saudosista que a cidade de São Paulo nos tomou e o transformou de Tonhe Banana em Toninho e depois para Toni.

Fiquei devendo a visita. Ele ficou me devendo o vôo.

Luiz Sangiovanni
Enviado por Luiz Sangiovanni em 17/04/2009
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