ACASCP - O clube social de Poções

Toda vez que acesso o site Guia Poções, rola um banner com a propaganda do CRP – Clube Recreativo Poções, anunciando o grito de Carnaval. Me dá saudades das festas que aconteciam ali, principalmente os carnavais.

O CRP se chamava ACASCP (Associação de Cultura e Assistência Social da Cidade de Poções) – a gente sempre pronunciava parecendo que estava com o “C” engasgado – “acasquipe”. Outras facilitavam e diziam “acaspe”. Mais fácil ainda era dizer “clube”. Tudo isso para diferenciar do velho “mela cueca”, de onde vinha a nossa turma.

Mas o que se fazia no “mela” não podia ser feito na ACASCP – as famílias estavam em todas as festas.

Na época do carnaval, o clube dava trabalho para a gente. A decoração era toda feita com grandes barrigas de serpentinas, estiradas uma a uma e com medidas milimetricas. Partíamos do centro em direção às paredes laterais. Ninguém enxergava as tábuas do forro de tão fechada que era a decoração. Quem comandava o nosso trabalho era Miro Paradela ou Beto Nápoli.

Por este trabalho, a gente ganhava a bebida do carnaval. O valor do trabalho era transformado em fichas e essas divididas pelo grupo. Tínhamos crédito no bar do clube e o atendimento era feito por Nadinho e o velho Coelho, com aquela perna manca, depois de ter tomado uma queda da escada pintando uma parede.

O carnaval de Poções começava sempre no domingo à noite. No dia seguinte, tinha a matinée e o segundo baile noturno. Na terça, às 10 da manhã, começava a batalha de confetes e se estendia até as duas. A banda que tocava era formada pelos músicos da cidade. Só marchinhas e o samba enredo das escolas de samba do Rio de Janeiro.

Ainda me lembro das músicas. No ano de 69 foi o enredo – Bahia de Todos os Santos (Bahia, os meus olhos estão brilhando, meu coração palpitando de tanta felicidade...). Em 1970, foi meu primeiro carnaval em Salvador, não me lembro qual foi a música. Em 1971, outro samba fez sucesso – Festa para um Rei negro (O-lê-lê, ô-lá-lá, pega no ganzê, pega no ganzá...). Já o ano de 1972 foi inesquecível com o sucesso da Mangueira (Tengo-Tengo Santo Antônio Chalé, minha gente, é muito samba no pé...). Encerrei os meus carnavais na ACASCP em 1973.

De 1974 em diante, saía nas ruas de Salvador em um bloco chamado “Sniff – o bloco do gato”. As mortalhas eram guardadas e enviadas para Poções e tinha uma turma que usava no ano seguinte. Edson Exler e Clodoaldo, velhos parceiros de carnaval, sempre faziam uma brincadeira no domingo à noite: “a gente aqui já está cansado e o povo em Poções nem começou a brincar o carnaval...”

Mas na ACASCP, o sentido de rotação para brincar o carnaval era um só, o anti-horário. A gente ficava parado, paquerando as meninas que pulavam girando. Tínhamos que ser ágeis senão a concorrência passava a perna. Vez ou outra, pra variar, rolava o maior pau. Lembro o dia em que meu pai e Badinho Lago pegaram um sujeito brigão e jogaram pra fora do clube e ele já caiu com o revolver na mão. Meu irmão Pepone, ao tentar apartar a briga, cortou o pé com um caco de garrafa. Como não havia hospital, a emergência era o consultório de Dr. Arthur, onde levou alguns pontos e encerrou o carnaval antecipadamente.

No último dia, ao amanhecer, quando a banda tocava “tocador quer beber”, as serpentinas eram arrancadas do teto – era o fim do carnaval. Tantas horas de trabalho detonadas em minutos.

De tanto passar pelo palco, saía de lá com um zumbido no ouvido e quando encostava a cabeça no travesseiro ouvia durante dias o barulho do surdo de marcação.

A ACASCP se transformou no CRP, que se tornou em um belíssimo e moderno clube. Se mantido o estatuto, ainda tenho um título de sócio patrimonial, o de número 60.

O carnaval cresceu e é uma mesmice gigante onde impera a delinqüência. Confesso que ainda gosto, mas sinto uma preguiça enorme em sair de casa e me basta olhar da varanda de casa o movimento daqueles que estão se dirigindo para a Barra ou para a Avenida Sete, pensando nos bons momentos do nosso clube.

Luiz Sangiovanni
Enviado por Luiz Sangiovanni em 18/04/2009
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