A pomba branca, o sagrado e o profano

Durante os dias de Carnaval fiquei em casa. Na varanda, apareceu a pequena pomba branca que já vinha assaltando a nossa cozinha em busca de alimentos.

Um devoto do Divino não espanta pomba branca. Ela queria me dizer alguma coisa. Coloquei alguns caroços de milho numa tampinha e me fez companhia, visitando a varanda todos os dias. Agora, eu não consigo parar de receber a pomba.

Ela me contou que a Festa do Divino desse ano deverá ser alterada. O religioso será em dias diferentes do profano.

Me preocupei porque somos uma terra daquilo que já teve. Veja aí o exemplo do futebol. Estamos jogando fora (literalmente) aquilo que promove o nome da nossa cidade. São mais de quatrocentos municípios na Bahia e apenas nove deles são representados no campeonato baiano. Poções é um deles. Do jeito que vai, perdendo ponto a cada rodada, o rebaixamento será iminente.

Mas, lembremos um pouco da Festa do passado. Parte da igreja matriz foi feita com os recursos arrecadados no pavilhão central, através do leilão. As pessoas que coordenavam o leilão eram as mesmas que participavam das novenas e também ajudavam na realização delas nos dias específicos dedicados à comunidade. O profano era uma extensão do religioso.

Barracas de bares sempre existiram. O serviço de alto-falantes da praça só tocava depois da novena. Normalmente, as pessoas saiam da igreja direto para a praça. Davam várias voltas e depois iam apreciar a filarmônica tocando no pavilhão, onde no final da noite ainda se apresentava outra banda. Era a tradição.

Entre o sagrado e o profano, os dois cresceram. O sagrado ainda é mais tradicional, a parte bonita da Festa. A chegada das Bandeiras, o Mastro e a Procissão são os eventos religiosos que sustentam a beleza da Festa e cresce na fé das pessoas.

O profano tratou de descaracterizar a Festa quando resolveu colocar o gigantesco palco e transformá-la em um só grito de carnaval, onde hoje desfilam blocos e enormes carros de som, sem contar que a economia da cidade vai toda embora com a contratação da logística para o evento (as bandas, o palco, o som, as barracas e os garçons são todos de fora).

Há de se pensar numa fórmula conciliadora entre o sagrado e o profano. A permanência das duas festas em uma só é necessária. As pessoas aguardam esse momento para visitar os familiares e amigos e isso traz economias para a cidade.

Na última festa, tivemos a ajuda da prefeitura na montagem de uma barraca que consideramos a volta do Pavilhão, onde vários amigos se encontraram, a Filarmônica tocou lá e ainda tivemos leilão. Uma pessoa me disse: - Ganhei a Festa, depois de muitos anos eu consigo reencontrar os meus amigos e conversar um pouco no meio dessa barulheira.

Tomara que a pomba branca consiga essa façanha – unir novamente o sagrado e o profano...

Luiz Sangiovanni
Enviado por Luiz Sangiovanni em 18/04/2009
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