O problema não é meu

O natal está chegando e temporada dos suicídios se inicia.

Quando você vai ao psiquiatra, irá perceber que quando se aproxima dessas datas, eles são mais atenciosos.

- Olha, qualquer problema me liga! Um bom natal e um ótimo fim e começo de ano!

Quando alguém fala pra eu ficar bem, penso se ela está me dizendo para eu não deixar a faca escorregar e cortar meus pulsos. Ou talvez para eu não tropeçar e cair do meu 4° andar. Talvez eles querem dizer para não ser atropelado por não olhar para os dois lados.

Quando você sair do hospício uma vez, pode ter certeza que nada será como antes. As pessoas olham e falam com você como se você fosse um retardado.

Não se pode esperar muito de uma pessoa que quer se matar.

As pessoas se matam pelo seguinte motivo: solidão.

A solidão é algo frustrante para o solitário, mas é a única justificativa que encontrei para você falar que não é um retardado.

Eu cansei de sorrir e falar “Estou bem!”. No meu caderno, conto o número de vezes que meu pai perguntou se estou bem: 532 vezes esse ano.

Minha mãe eu conto por lágrimas. Eu fiz minha mãe chorar 27 vezes. Desde minha primeira acidental overdose de creme dental até minha ultima acidental introdução de 58 comprimidos de amitriptilina e 30 de clonazepan.

Mas agora chorei de novo, e tudo fica complicado quando um homem chora. Quando se chora, não se chora por bobeira, chora-se quando não há perspectivas, quando o futuro não está muito claro; e que tudo aquilo que queriamos não aconteceu. Eu não volta nada, nunca volta. O erro permanece sempre.

A merda, eu chorando e pensando nos outros.

É difícil perceber que as relações humanas são a única porta que encontramos para a felicidade. Por convenção, as relações sociais são o principal instrumento para sorrir.

Mas não a minha porta, não o meu instrumento.

Agora entendo que quando se entende é possível se opor. A solidão não era o meu tormento, a solidão era minha negação. Meu sofrimento estava em não compreender o significado que ela representa no seio da querida vida social.

Agora eu só quero ficar sozinho. Quero ficar isolado, longe de tudo e de todos. Morrer só.

Mas não, algo deu errado.

Entender não trás solução, mas sim complicação.

A contradição entre querer ficar só e vontade de pertencer a algo ou a alguém toma minha cabeça por assalto.

É um passo para frente e volta.

Olha pra frente e olha para trás.

Deita e levanta.

Mas uma coisa me veio a cabeça, outra compreensão.

Não há fuga, não há negação, não há entendimento, não há solução que faça alguém se desprender da convenção, da maravilhosa vida social.

As ruas e as placas já estão todas postas. Não é possível atravessar as paredes. Não é possível andar na contramão. Se você não nasceu para pertencer a esse mundo pré-fabricado, se não faz parte do ala privilegiada da seleção social, então você sofre.

A pergunta “o que é tal coisa?” já tem resposta. E a pergunta “como chego lá?” já está respondida. Agora se você vai gostar ou não das duas respostas, problema é seu.

Foda-se você com seus entendimentos, com suas novas soluções, foda-se quem tu és, quem desejas ser. Foda-se você.

É isso aqui e pronto!

Então eu sofro. Não tenho nem mais a animação de uma nova descoberta para minha vida. Não tenho disposição para mais nada que possa me fazer melhorar.

Você irá assistir filmes e ler livros com milhões de alternativas, e será um grande otário se acreditar em alguma. O entendimento só irá fazer você se sentir como eu: desanimado e indisposto.

Os que se arriscam à levar adiante suas descobertas, soluções ou alternativas tem apenas um único fim, que se explica a partir do natal e do ano novo.

Aceite e não questione, siga a linha e espere morrer. É o que eu deveria ter feito, deveria ser a primeira coisa que eu deveria entender.

Porém, a vida por convenção é pura ilusão, e o sofrimento conseqüente dela é falso. Portanto, de uma forma ou de outra, pulando de ilusão em ilusão, o sofrimento vem de todos os lados: Fustrações, medos, decepções, lástimas, nostalgias, agustias, e por ai vai.

Tudo pela convenção.

Tudo pelo social.

Se é para ser franco, o que eu deduzo de verdade é que a sociedade sofre bem mais do que eu. O problemático deixou de ser um indivíduo, deixou de ser pessoas. Não deveriam perguntar para mim se eu estou bem, pois eu sou o alvo errado.

Agora eu posso dizer que não está tudo bem tranqüilamente, porque neste mundo.. eu sou insignificante.

Plínio Platus
Enviado por Plínio Platus em 18/04/2009
Reeditado em 20/04/2009
Código do texto: T1545622