"" A Volta do Radinho de Pilha ""

          Ontem quando cheguei na empresa em que trabalho, passei na lanchonete para comer alguma coisa, o que foi rápido. Em seguida fui ao fumódromo e acendi um cigarro, como sempre faço antes do expediente. Mas mais uma vez eu não consegui ficar sossegado no meu momento, sempre músicas misturadas invadem o meu silêncio.
          Sempre tem alguém com um maldito celular ligado numa música, e o que é o pior, cada um sintonizado numa diferente, uma mistura de mau gosto que só vendo.
          Não que as pessoas não possam ouvir suas músicas como bem entenderem, pelo contrário, elas devem ouvir. Pois a música é uma arte. Mas não devem se esquecer de que vivemos em sociedade e devemos respeitar os direitos alheios.
          Eu e nem ninguém é obrigado a ouvir uma música que não queira, e foi por isso que inventaram a porra do fone de ouvido, que é para cada um ouvir o que bem entender sem incomodar mais ninguém, afinal, os gostos são diversos, e nem sempre o meu, agrada o próximo.
          Me enchi da situação e me levantei, apaguei o cigarro e fui para o vestiário me trocar para mais uma noite de trabalho. Mas antes de terminar de percorrer o imenso corredor do vestiário – pois meu armário fica no fundo – eu já ouvi uma música, lá longe, o que já denunciava a altura que estava sendo tocada.
          Mais um idiota que não conhece o fone de ouvido. Eu pensei.
          O armário do cidadão fica perto do meu, então olhei com cara de poucos amigos para ele, para ver se ele se tocava, mas nada. Ou ele era folgado mesmo e estava pouco se fodendo com os meus direitos, ou ele é muito inocente ou idiota e acha que todo mundo gosta de ouvir a música ridícula que ele estava escutando.
          Fiquei com vontade de mandar ele tomar no cú e também com vontade de gritar e mandar ele desligar o som, mesmo porquê, na entrada do vestiário tem uma placa que diz: Proibido aparelhos sonoros. Mas deixei para lá, não ia adiantar. Existem pessoas que são tão ignorantes que não há cultura que cure. E o máximo que eu ia arrumar era uma discussão sem necessidade. Sem falar que depois eu talvez viraria motivo de chacotas, porque o ridículo traz mais discípulos do que o civilizado.
          Terminei de me trocar rapidamente e fechei o meu armário. Passei do lado do DJ de celular e olhei para o aparelho dele, para mais uma vez ver se ele se tocava. Mas com certeza ele deve ter pensado que eu estava com inveja do telefone dele, afinal, deve ser para isso que as pessoas tocam músicas no celular para todo mundo ouvir, para se mostrarem, só pode ser. Saí do vestiário e me benzi ao percorrer o corredor, pedindo proteção para mais um dia de labuta. Cheguei no hall dos elevadores e pressionei o botão de chamada. Passaram-se alguns segundos e a campainha soou, o carro dois veio me atender. As portas abriram-se.
          Mas que porra! Pensei comigo mesmo, ao ver que dentro do elevador um rapaz também segurava um celular que tocava á toda altura.
Balancei a cabeça negativamente e saí indignado em direção ás escadas, e conforme eu percorria os degraus eu tentava entender o que leva as pessoas serem tão folgadas ou idiotas. O que leva as pessoas a se acharem no direito de fazer qualquer coisa. Porque as pessoas não se importam com quem está ao lado?
          Eu sinceramente não sei. Afinal, os celulares de hoje tiram fotos, mandam mensagens, e-mails, servem inclusive para fazer e receber ligações, mas muitas pessoas querem aparecer, e com isso, usam os seus telefones apenas como velhos e antiquados radinhos de pilha.
          O meu avô que iria adorar...
Elder Prates
Enviado por Elder Prates em 18/04/2009
Reeditado em 27/07/2009
Código do texto: T1545679
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