Sou fã do Rubinho

O ditado tem todo jeito de ser americano, mas poderia, tranquilamente, ser brasileiro até a medula: “O segundo vencedor é o primeiro perdedor”. Nossos vizinhos do Norte o aplicam aos negócios, e nós, com toda categoria e grande dose de injustiça e desprezo, aos esportes. Precisamos desesperadamente de ídolos, respiramos seus sucessos como se fossem nossos, nos deliciamos com suas demonstrações de riqueza e, com a mesma velocidade que condenamos seus deslizes, os perdoamos como se fossem nossos filhos moleques e ingênuos. Só uma coisa não perdoamos: ser segundo. Não, de maneira alguma; antes não participar, sequer existir, mas segundo, nem pensar.

Quantas vezes fomos campeões de futebol? Está na ponta da língua, não é? E vice, quantas vezes? “Ah! Nem me fale, aquela derrota para o Uruguai, em 1954, não me deixe lembrar”. O cara tem 30 anos, isso aconteceu há mais de 50. Ora, ora, vá se coçar. Sei lá se Freud explica, mas que é pior do que odiar a mãe, é.

Não se trata de não saber perder, mas de não saber jogar e, enfim, não saber conviver. Já imaginou um jogo só com ganhadores? Pois existe: aquele em que todos jogam pelo jogo, se esforçam, dão o máximo de si, curtem cada instante e aceitam o resultado com alegria, mesmo que haja um pouco de frustração por não ter vencido, mas o jogo valeu mais. Existe um outro, só de perdedores: aquele em que o adversário vira inimigo, o jogo um campo de batalha e o único resultado possível a vitória.

Mas o assunto é Rubens Barrichello: não lembro de um esportista ser tão massacrado no Brasil. Massacrado por sua competência, o que é mais inacreditável. Se alguém que nada sabe daFórmula I ouvir um brasileiro falando de Barrichello, ficará com a impressão de que é um barbeiro que está lá porque precisam de um palhaço na categoria.

Pois esse incompetente é apenas o piloto de maior permanência na Fórmula I, o segundo (iiiii) em número de provas pontuadas, o terceiro (merreca!) em número de pontos em uma temporada, considerado o melhor de todos os tempos na chuva, vencedor de nove GPs, um dos melhores acertadores de carros etc. etc. Ah! Num mundo de 6 bilhões de pessoas e dentro de um grupo de menos de 30. Deve ser porque tem sobrenome italiano (olha a Máfia aí, minha gente!) e, claro, porque nasceu no Brasil, mas é Pé de Chinelo!

Haverá, sempre, os zombadores, mas sou fã dele há muito tempo, bem antes da Brawn existir.