PREFIRO FALAR DE FLORES

Ultimamente as manchetes dos nossos jornais só têm noticiado, em sua maioria, atos insanos de violência. Nossa cidade, realmente, está à mercê de acontecimentos que estão nos deixando estupefatos e revoltados diante da impotência de não se poder fazer nada. Nos fechamos, nos calamos e estamos ficando sobressaltados. Todos os dias temos notícias de atos de violência em um comércio, com um conhecido, com um vizinho, na rua de baixo, em nossa família. Temo que isso acabe virando rotina, antes que algo concreto seja feito. Temo que comecemos a achar tudo normal e que não mais fiquemos indignados com essa situação. Temo ainda que eu não tenha mais assunto para escrever nesta coluna, que não esteja ligado a tais acontecimentos. Temo. Não gosto de falar de dores, prefiro falar de flores, prefiro falar de amores. Prefiro falar em meus artigos das coisas maravilhosas que acontecem em nossa cidade, porque acontecem coisas maravilhosas aqui sim.

Temos Faculdades conceituadas que fazem um excelente trabalho na educação superior, entre elas uma Universidade Estadual que desenvolve pesquisas incríveis na área de Biologia.

Temos artistas que saem daqui e se despontam para o mundo, bem como escritores renomados, ótimos profissionais, empresas de alta qualidade. Temos um trabalho de imprensa de ótima qualidade em todas as modalidades. Assis é uma cidade maravilhosa, acolhedora e privilegiada. É triste presenciarmos esta sequência de barbáries que vem acontecendo aqui. Prefiro falar das conquistas a falar das derrotas. Não é utopia, é somente um desejo de que nossa cidade volte a ser como a alguns meses atrás. Não que não existisse atos de violência, roubos, mortes, sim, sempre existiram e vão continuar existindo, o problema é que esses acontecimentos tomaram proporções assustadoras, que nos levam a tocar no assunto várias e várias vezes, nos jornais, canais de TV, rádios, em conversas informais. Isso é triste e muito, muito preocupante. A violência é um problema antigo, social, sem muito respaldo dos governantes, que se alastra por todo o país, todos nós sabemos disso, já estamos cansados de ouvir isto. Porém, o sonho de um país melhor não pode morrer dentro de nós. O sonho de nos irmanarmos na solidariedade, no amor ao próximo, na conquista de uma cidadania decente e justa. O sonho ainda de nunca mais precisarmos falar de dores, dissabores, desamores. O sonho fantástico de um dia podermos falar, simplesmente de flores...

-Crônica publicada no jornal VOZ DA TERRA, da cidade de Assis, em 28 de abril de 2009.