COM QUE MÁSCARA EU VOU AO JOGO DO MENGÃO NO MARACANÃ???

Com que máscara eu vou ao jogo do Mengão no Maracanã?

Acordei atrasada. Não vi o sol invadir o tecido fino da cortina. Fui até a janela, tinha um discreto nevoeiro encobrindo o nariz do gigante adormecido.

Antes de fazer minhas primeiras necessidades, fui desfilando a lista de providências.

Calculei mentalmente os horários e minha paranóia aumentou, preciso me apressar e já estou atrasada. Será que têm estoques suficientes? Só para começar, vou precisar no mínimo de um pacote com milhares. Não gosto nem de pensar diante do risco. Já me sinto morta na fila do hospital, antes de ser atendida. Dizem que a pneumonia é uma característica quase “fatal”. Sou asmática, tenho rinite alérgica, e meus pulmões estão cobertos de nódulos, cicatrizes de outras gripes, resfriados e infecções pulmonares.

Não consigo me acalmar, nem cheguei ao chuveiro. Vou até o telefone ligar para a mamãe. Não precisou. Ela já está tocando. Ouvi tudo o que ela me disse, meu irmão já está a caminho da farmácia com uma longa lista sem deixar faltar os bronco dilatadores.

Consegui achar o certificado de vacina contra pneumonia, e resolvi vamos ao médico em conjunto, eu, minha mãe, meu filho. Pedir prescrição de vacina contra pneumonia. Amanhã na feira, vou comprar mais laranjas e esquecer um pouco as bananas. Preciso também chamar a faxineira um dia a mais na semana.Comprar mais “Lisoform” para lavar as roupas, trocar as cortinas. De repente imagino como vou usar a máscara com o novo par de sapatos que comprei. Elas são azuladas não combinam com quase nada que tenho no meu armário. Achei a solução, algumas roupas foram feitas na costureira aqui do bairro, quem sabe eu ainda acho no fundo do armário, retalhos e poderia forrar as máscaras, não ficaria mais bonito? E se eu ousasse forrar algumas com aquele tecido finíssimo de liganete vermelha com estampa de onça no fundo. Não, não, ficaria muito.

“Cheguei”. Chamaria muita atenção, eu vou virar celebridade instantânea, e seria chamada nos corredores do fórum: “aquela da máscara de onça vermelha”. Definitivamente não fica bem. E se eu adotasse um modelito básico, como faço com os laços para o cabelo? De tecido de renda creme, preto, branco???? Muita apelação. Também pensei, o pior é na hora de encontrar o namorado. O que ele pode pensar? Sei, que já está acostumado com minhas pirações (são catorze anos, ele já viu muitas fases). No mínimo vai “cair na minha pele” ou imaginar que a minha calçinha é do mesmo tecido? Não sei (em se tratando das fantasias eróticas do meu gato, nada posso arriscar...).

Lembro-me que no prédio onde mora meu namorado tinha uma excelente modista, ela fazia de tudo. De repente conhece alguém que além de forrar sapatos, pode forrar algumas máscaras. Pensei muito em encomendar uma vermelho e preta para ir ao Maracanã no domingo. Não posso me arriscar no meio daquela multidão. Vai, que de repente algum mexicano resolveu assistir a final do Mengão “in loco”?

Esqueci-me do detalhe principal, qual modelo meu filho vai usar para combinar com o uniforme. Laranja, de preferência com aquela tinta luminosa como a roupa dos garis? Acredito que ele não vai querer nenhum. Já é difícil fazê-lo vestir o uniforme da escola. È talvez para as pequenas indústrias de fundo de quintal, seja uma oportunidade de faturar algum. Acredito que os modelos inspirados nos desenhos: Pokemon, Naruto, Bem-10 vão pipocar. Ontem, dei uma espiada nos ambulantes, que estão encurralados entre a calçada e a subida do mosteiro de Santo Antonio e nada encontrei.

Viajei nos modelitos das máscaras e me esqueci do mais importante. Não entrar em contato com pessoas provenientes do México e de outras áreas endêmicas.Não posso me esquecer de fechar os vidros do carro quando parar no sinal, de lavar as mãos várias vezes quando entrar em casa, no escritório, enfim é alarmante, acabo de ver na TV que o vírus se alastrou por nove países, está na Europa, e que um diretor geral da OMS já avisou que não vai adiantar fechar fronteiras. No Brasil, já existem 12 pessoas sendo monitoradas. É terrível. Meu feijão não vai ter mais o mesmo gosto. Não poderei colocar um pedaço de toucinho, nem lingüiça.

Durante anos tenho me prevenido contra a dengue, telas nas janelas, repelentes de última geração, vela de citronela, fumaça mesmo. Já sei de cor o ciclo do mosquito africano, reconheço um até pelo zumbido que faz a sessenta metros do meu corpo.

Agora com a gripe suína desconheço opções, alternativas. Vou rezar, dessa vez, não vou pedir nem a São Jorge, (li na manchete de um jornal que ele estava ajudando a encobrir droga, dentro de algumas imagens). Vou pedir aos elementais do ar, que soprem para o buraco negro do universo este novo malefício. E peço aos leitores, que não duvidem, preparem seus modelitos e façam suas orações. Nem cheguei a pensar no lado mais chato. Se meu namorado pegar a gripe vou ficar sem beijá-lo. (Já estamos quase batendo o recorde do beijo apressado, no último ano fiz quatro cirurgias na parte superior da boca). O implante dentário além de ser dolorido no bolso, é um processo muito delicado.

Enfim, me decidi, vou deixar o preconceito de lado, e vou usar meus novos modelitos,

Ah! Não fiquem com inveja, mãos a obra, façam de tecido luminoso, de crochê, bordadas, mas não deixem de usar a máscara. Afinal, viver nos dias de hoje, implica em se fantasiar, se mascarar, se proteger de mil maneiras. O que vale é a saúde.

Aradia Rhianon
Enviado por Aradia Rhianon em 28/04/2009
Código do texto: T1564160
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