NUM MUNDO MEDIANO

Na verdade esta minha crônica é mais um ensaio do pensamento.

Estava eu numa dessas filas da vida, quando conheci uma senhora oriental, octagenária, que não fazia questão de usufruir do seu direito de cidadã da terceira idade para ser atendida preferencialmente.

De fato não acreditei quando me revelou sua idade e logo entendi que a sabedoria é fonte de eterna juventude.

Começamos então a conversar e rapidamente também entendi o porquê do seu despojamento.

Dizia-me que estava indignada com os tempos, porque considerava o mundo atual muito "malcriado".

Então a conversa enveredou pelos campos da educação , das interrelações pessoais, e do bom senso tão em falta nos dias de hoje.

Ela, de formação técnica, dizia-me que já cursou vários cursos abertos na USP destinados ao pessoal da terceira idade.

Atualmente frequentando um curso de ARQUEOLOGIA se vê encantada com os museus, e com as fotografias que dele faz e depois as "trabalha" no foto shop e no power point do seu computador.

Especializada em gastronomia, elabora receitas da culinária internacional.É atleta das caminhadas.

Porém recentemente, dizia-me que se desentendeu num curso que exercitava o Q.I emocional, e o largou no meio do caminho porque a professora lhe deu uma "bronca" quando perguntou à colega do lado o significado duma palavra que não conhecia:" é proibido colar" disse-lhe a professora num tom áspero.

Saiu da sala, pediu seu desligamento do curso porque achou que a professora deveria ter lhe perguntado "qual é a sua dúvida, posso lhe ajudar?", deduzindo que quem precisava exercitar a emoção era a educadora.

"Quem é a professora?" perguntou-lhe a direção na ocasião do seu desligameto.

"Ora, vocês é que deveriam saber quem é, não sou dedo-duro!" respondeu, com todo o seu brilhante senso.

Fiquei boquiaberta com aquela senhora.

Atualmente resolveu dar aulas de informática na sua casa e disse-me que as alunas, amigas de todas as idades, reclamam da sua exigência com o horário. "Você vai acabar sózinha, assim !" Ao que lhes respondeu:"melhor só do que mal acompanhada!".

"A disciplina também é um dos segredos do sucesso" disse-me ela.

De repente, voltei o pensamento a mim.

De como tenho me esperneado para encontrar o bom senso pelo mundo.

Quando somos crianças, nosso referencial é nossos pais.

Crescemos, e aos poucos vamos percebendo que a tal "evolução" nos deixou falando sozinhos!

Como falta o senso crítico sensato nos dias de hoje!

Lembrei-me que certa vez entrei numa sala e vi a seguinte inscrição numa lousa, de alguém pensador:" Um dia , o mundo será dominado pelos medíocres por uma simples questão de maioria".

Esse dia já chegou.

Sempre achei a palavra "medíocre" muito pesada, altamente pejorativa. Mas não é. Nos dias de hoje é até leve demais!

Vivemos num mundo MEDIANO, aonde a vida acontece com pouca exigência, não se tendo muito como recorrer ao bom senso.

Uma vida deveras insensata.

Agradeço àquela senhora por me ter agregado sabedoria e esperança.