É GUERRA!

É GUERRA! Maria Teoro Ângelo

Se não bastasse tudo o que já vimos, agora fomos sacudidos por essa reação em cadeia dos foras-da-lei, que culminou com reféns, ônibus e prédios incendiados . E mortes, muitas mortes. Na batalha morreram mocinhos e bandidos. A polícia perdeu vários de seus homens nos confrontos, nas suas casas, chamados para morrer através de telefonemas falsos e metralhados em seguida.

Tantas mortes não anunciadas e que se estenderam a quem estivesse por perto também significam a afronta maior ao estado de direito, às instituições, à sociedade, ao cidadão comum. Era um território minado onde imperava uma violência sem controle.

Se não bastassem os assaltos diários dos quais somos vítimas, a guerra constante entre as gangues, entre as quadrilhas de traficantes, as invasões dos sem-terras dilapidando o patrimônio alheio, ainda há e haverá os imprevistos que, por ora, não sabemos nomear.

Disseram que o celular foi a arma mais eficiente para coordenar e planejar a desordem. De fato, a palavra sempre foi e sempre será a arma mais poderosa de que dispomos. Ela incita, ilude, engana, faz guerras, lança o caos.

Tanta petulância por parte dos bandidos é alicerçada pela certeza da impunidade. Outro dado é o exemplo do governo. Com tanta corrupção, atos ilegais correndo soltos, a negação de responsabilidades e a ausência de punição, cria-se uma espécie de permissão dentro da sociedade, um impulso acelerado, um consentimento, uma potencialização da má índole, da prática criminosa, do vandalismo abusado e visivelmente constatado pelo fogo que ardia nos ônibus em chamas.

Num treze de maio, que remete à liberdade, num Dia das Mães, que combina com vida, assistimos amedrontados à amostra de uma guerra urbana jamais vista e que pode vir cada vez mais intensa através das ações destemidas, do enfrentamento insolente dessa fatia da sociedade que prefere o lado obscuro do ser humano. A conseqüência desastrosa é que os homens que permanecem no lado oposto são atingidos no que têm de mais precioso: vida e liberdade.

Os presídios são realmente superlotados e deixam pior quem lá está.A dificuldade da regeneração é que o crime abrevia os caminhos. É característica do ser humano usar a lei do menor esforço. E o crime, quando dá certo, traz rapidamente ao desejo o que foi desejado.

Os bandidos correm um risco calculado na hora da empreitada, mas nós corremos riscos incalculáveis a todo momento, todos os dias, em qualquer lugar.

A rotina das cidades atingidas pelas rebeliões cancelaram o ritmo da vida. Fecharam escolas, comércio e prédios públicos. O povo apavorado não sabia para onde ir. Sem transporte coletivo, desesperados pelo perigo que ameaçava, cada um tentou chegar à sua prisão domiciliar. Lá, cercados por grades e cercas elétricas, enjaulados são, por todo o tempo, reféns do medo, do abuso, da escalada do mal que paira sobre suas cabeças.

15/05/2006

Lillyangel
Enviado por Lillyangel em 16/05/2006
Reeditado em 03/12/2010
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