Reflexões de um doente

Reflexões de um doente por Modesto C. Baista Neto

Lamentava-me por todas as chuvas que peguei. Minha mãe mandou inúmeras vezes eu trocar a camisa molhada e eu afirmava constantemente “mãe não ta molhada”. Agora lá estava eu com trinta e nove graus de febre andando como um zumbi dentro de casa.

A televisão ligada fazia minha vista turvar e me dava dor de cabeça e aos livros eu não podia recorrer até porque minha dor de cabeça apenas aumentaria com o forçamento da vista na leitura a noite.

Minha mãe viajou para a capital por volta das três da madrugada, tinha uns exames marcados e precisou ir de madrugada, já medicado e com a febre oscilando eis que a insônia me atinge. Nada de sono. Nada de dormir. Nada de pregar os olhos... Nada de nada...

Na televisão alguns seriados nada atrativos, na TV Câmara uma discussão sobre saúde e sobre a mais nova gripe, a gripe suína. Pensei “de gripado já basta eu”.

A garganta doía, os olhos doíam e eu fazia reflexões no mínimo engraçadas e esquisitas.

Quando tinha saído antes de casa encontrei perto de um banco da praça um chorinho, pequeno, inofensivo com fome e frio e pulgas, lembrava-me da infância quando levava todos os cachorros abandonados para dentro de casa e posteriormente os devolvia a rua, revoltado porque minha mãe não gostava de cachorros, saber que eles já estavam alimentados já me tirava um certo peso da consciência.

Pensava que por não ter levado o cachorrinho para casa estava com o frio que ele também estava. Bobagem... Acho que foi a febre que me deixou meio maluco.

Quando a febre aumentava pensava que iria morrer, cheguei a imaginar alguém entrando na minha casa e constatando que eu estava morto. Ainda bem que o fato ficou apenas na imaginação. Morrer sem deixar uma carta me despedindo ou sem fazer uma festa comemorativa para rever os amigos e familiares não teria graça. Pensei e decidi: não quero um enterro fúnebre com um monte de gente chorando. Quero uma “coisa” festiva, alegre, com pessoas conversando... Não quero que chorem por mim até porque eu acho que o preço das lagrimas é muito alto e eu não mereço tanto. Quero que as pessoas lembrem de mim como uma pessoa viva, que estará sempre presente, no pensamento, no sorriso, nas atividades, nas escolas por onde estudei. Vou virar energia e apenas a carcaça já usada irá ser engolida pela terra.

Alias... Nós todos somos importais. Ninguém morre enquanto um pensamento relembrar a pessoa em questão.

Liguei o computador e li alguns discursos do senador Cristovam Buarque do Partido Democrático Trabalhista (PDT) do Distrito Federal. Penso que um dia poderei defender a educação com tanta ou mais contundência. Até porque o único caminho para a liberdade de pensamento existir realmente é a educação. Ai quem sabe nós poderíamos travar combates políticos com idéias, projetos, metas, princípios, ideais e pensamentos voltados apenas para o povo brasileiro com debates de nível elevado com homens que honram as cores da bandeira.

É realmente tudo isso no qual estou refletindo mais parece reflexões de um dopado...

A febre finalmente me deixa em paz. Já pensei. Já vomitei. Já pensei que iria morrer. Já defendi a educação, mesmo que em pensamento e agora ta na hora de dormir até porque o relógio já aponta cinco horas da madruga

Boa noite.

P.S Eu sou um cara gripado com febre e não um drogado.