SER FLAMENGUISTA É BOM DEMAIS!

Estou no Recanto das Letras há um bom tempo e apesar de ser seguramente o mais fiel e ardoroso flamenguista de todo o planeta, jamais me manifestei acerca dessa paixão por aqui porque achei que esse deveria ser um espaço especificamente poético. Porém, após todos os pulos e brados comemorativos de mais um título que veio ontem, cheguei à conclusão de que não há nenhuma incongruência nisso, pois flamenguismo é pura poesia.

Quem pertence à minha geração viu nos anos oitenta o Flamengo destruir todos os adversários que surgiam pela frente e considero pouco provável e nada justifícável que um único ser dessa época não se assuma flamenguista.

Mas não é apenas uma questão de consquistas do passado. O Flamengo é uma paixão de proporções bem maiores, é um time que emociona e não é atoa que fico tão transtornado e quase que em transe diante de seus jogos.

É uma pena que eu não tenha conseguido me tornar um atleta profissional do mengão, pois bem me lembro quando olheiros oficiais do robro-negro estiveram fazendo uma "peneira" aqui em São Luís, ainda nos anos oitenta. Quando eu soube da novidade, me determinei a conquistar esse triunfo tão sonhado. Eu era apenas um garoto que me via no maracanã marcando um gol no segundo tempo na final do carioca contra o vasco, ouvindo aquela massa gigantesca gritando meu nome. Sonhava com isso até de olhos abertos.

Mas tinha um problema, os testes iriam ocorrer justamente no meu horário de aula. Então tive que ser criativo e claro não deixar minha mãe perceber meus planos. Saia de casa com o uniforme da escola, mas na mochila levava chuteira, meião, caneleira, um calção e, obviamente, o manto sagrado do mengão. Um de meus melhores amigos, por sinal péssimo jogador, preferiu ir para a escola e ele me ajudou a manter o sigilo. Após os testes eu ia para sua casa, copiava os conteúdos e voltava pra casa justamente no horário de costume. Essa foi minha rotina por uma semana inteira. No sábado haveria um jogo, onde os escolhidos seriam utilizados. Cada garoto selecionado, assinaria um contrato, iria para o Rio de Janeiro, moraria na sede do Flamengo com todas as despesas pagas, inclusive escolares. O que mais eu poderia querer na vida além disso?

No dia do teste final me destaquei. Marquei dois gols. O treinador ficou admirado com a habilidade de minha perna esquerda e me selecionou. Acho que nunca fiquei tão feliz em toda vida. Eram mais de 250 garotos e somente oito foram escolhidos e eu era um deles.

Cheguei em casa radiante, mas agora faltava a parte mais difícil, convencer minha mãe a me deixar ir.

Minha estratégia foi contar primeiro pro meu pai e pedir a intermediação dele. E ele bem que tentou, mas não funcionou. Minha mãe ficou furiosa ao saber que eu faltei uma semana de aula devido aos treinos. Também afirmou que milhões de garotos tentam a sorte como jogadores e voltam pra casa frustrados ou são vitimas de oportunistas ambiciosos. Pra resumir: eu perdi minha grande e única oportunidade de ser um jogador do Flamengo.

Mas tudo bem, hoje que sou pai entendo bem os sentimentos e razões que levaram minha mãe a agir daquela forma e ao longo dos anos minha paixão pelo Flamengo só se agigantou.

A maior torcida do mundo, um time que parece um grande fênix desportivo, que brota das cinzas para se tornar sempre conquistador, um esquadrão hegemônico, que leva seus milhões de adeptos ao pleno delírio e sua meia dúzia de opositores às lágrimas profundas. Isso tudo, evidentemente, só consolida uma afinidade que sustento desde a tenra idade.

Hoje, após mais um dentre tantos títulos conquistados, eu percebo que essa é uma relação que há de perdurar até meu derradeiro dia existencial, e que muitos outros domingos de comemoração com um gelado copo de suco de maracujá ainda virão.

Deus, minha família e o Flamengo, eis a tríade de meus extremos preferencialismos.

Por essas e outras, que me perdoem as outras tocidas, lamento meu querido amigo Arão Filho, botafoguense (ninguém é perfeito), mas a verdade é uma só: SER FLAMENGUISTA É BOM DEMAIS!!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 04/05/2009
Código do texto: T1575317
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