Galinha ou....
Na procura de certa proteção, todas as noites, os cachorros ficam soltos para que resguardem a casa e cuidem de que estranhos não tomem a liberdade de visitar-nos sem convite e fora de hora.
Uma noite dessas, os latidos invadiram a madrugada transformando o silêncio em alvoroço. O que fazer? Pensei em levantar, mas o bom senso ou o medo levara-me a manter a calma e ficar a espreita, esperando que tudo se acalmasse.
O dia mal clareara e eu, ansiosa me preparo para averiguar o que havia acontecido. Devagar abro a porta dos fundos: aquela que dá para a pequena área.... Ali nada de novo.... sigo em frente e me aproximo do quintal. Para meu espanto uma ave mais parecendo uma galinha esta morta no chão. Estranho!... Eu não tenho galinhas, minha casa é murada. De onde viera aquela “galinha preta” que, por certo, teria sido o motivo de todo aquele alarido durante a noite?
A empregada chega.
Assustada recua ao ver a ave morta.
_ Cruz Credo, que é isso?
_ Os cachorros pegaram durante a noite, respondo.
_ Mas como ela veio parar aqui?
_ Nem imagino. Talvez seja de algum vizinho que há esta hora estará dando falta da mesma.
_Galinha não voa, ou será que voa? E ainda é preta! Pondera minha ajudante, assustada.
Tenho vontade de rir, ao observar sua expressão desconfiada. Disfarço e procuro imaginar o ocorrido alegando que a mesma deve ter subido no muro e pulado para o nosso quintal. Diminuo assim a desconfiança reinante.
Ela pergunta:
_ O que fazer agora?
_ Embrulha e joga fora.
Com escrúpulo ela pega a ave enquanto observa que a mesma é bonita, e de penas longas.
Sorrindo pergunto:
_ Quer levar pra você?
_ Eu não como galinha preta. Parece de macumba.
Começo a rir e comento que ela só é preta por que não é branca ou amarela. Galinha só não é Galo.
Ela pensa... Embrulha a penosa e pergunta:
_ Posso levar para minha madrasta? Ela sabe depenar e limpar uma galinha, eu não sei.
Penso comigo: nem eu.....
Confirmo com a cabeça que ela pode levar à defunta.
Assim, em vez da lata de lixo, a ave é colocada no fundo da geladeira até o fim do expediente.
No dia seguinte... Indago:
_ Como é, fizeram a galinha?
_ Minha madrasta disse que não era galinha. Era um pacu.
_ Pacu!?..Mas Pacu é peixe.
_ Peixe!?... Só se tem Pacu peixe e Pacu ave. Ela tenta explicar
_ Acho que está havendo algum engano. Respondo, buscando em minhas lembranças algum nome parecido.
Mais tarde... O velho jardineiro surge no portão. Aproveito para perguntar sobre a misteriosa ave.
_ Ele, o jardineiro conhecedor da flora e da fauna da região, calmamente informa:
_Dona, aquilo era um Jacu, ave que só come fruta e não enxerga a noite. Acho que estão acabando, quase não os vejo mais por aqui.
Reflito:...Pronto, minha cachorra vai ser presa, matou uma ave em extinção.
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Jacu, ave encontrada na América do Sul que se alimenta de folhas, frutos e sementes.
Assemelham-se às galinhas, mas vivem nas árvores, em bandos mais ou menos numerosos. Possuem cauda e corpo alongados, bico curto e um topete baixo, acompanhando o perfil da cabeça.