Ontem

Ontem conversei com um homem público.

Pelo meu jeito de ser: observadora, detive-me em detalhes.

Sua expressão corporal, movimentos, e especialmente no que dizia.

Nunca o fiz tão intencionalmente como ontem.

O que pude constatar é que esse homem não falava para mim, mas para ele mesmo.

Sua tentativa era convencer-se do que dizia.

Não falava comigo, mas consigo.

Seus movimentos eram tensos, não conseguia me ouvir, quando me colocava.

Algumas vezes tive que lhe pedir isso.

Então senti alguma coisa parecida com pena.

Não apenas.

Esse homem vivia um momento de confrontação pessoal.

Aquilo que desejava ser e o que conseguia.

Demonstrava-se forte, seguro, dono de si, e vivenciava uma fragilidade quase que insuportável.

Em algum momento da conversa ousei instiga-lo.

Disse-lhe algo como: e por que não faz isso?

Ele parou

Observou-me por alguns longos instantes e mudou o rumo da conversa.

Justificou.

Tentou argumentar

Não conseguiu.

Na tentativa de não mostrar-se a mim teceu elogios a minha pessoa.

Ontem conversei com esse homem público.

Alguma coisa em mim mudou em relação à imagem que fazia daquele homem.

Aparentemente forte

Mas frágil qual uma criança

Senti um pesar imenso.

Por que esse homem é um homem público.

E não poderia ser.