Mocinha, eu?
 
Tive que ir ao banco pagar a assinatura do Recanto das Letras.Fiz, no início, um plano trimestral, no maior estilo “três meses de experiência”, como nas empresas, sabe?Estou gostando de postar textos aqui.Ainda não apareceu nenhum “Roberto-Justus-da-vida” para dizer que meus rabiscos e eu estamos “demitidos”.Acho que estou me comportando bem .
 
Entrei na fila.Mas ela começou do lado de fora do banco, ainda na porta giratória.Na minha vez, fui travada.A chave de casa, esquecida em meu bolso, foi detectada.Que coisa chata!Olho para o guarda que tem uma cara de poucos amigos:
 
-Coloque tudo o que tiver de metal ao lado da porta, mocinha!
 
Eu estava armando a maior cara feia por conta do entrave, mas aí ouvi aquela palavrinha mágica no final da frase: “mocinha”.Ah, adoçou o coração da balzaca aqui:
 
-Claro, Seu guarda, é pra já!
 
Estava pondo na caixinha até o que era de plástico!
 
Aí eu entrei no banco.Outra fila: a do caixa.Uma dezena de pessoas na minha frente.
 
De repente, dou uma olhadinha para trás.Fiz questão de contar.Havia mais gente atrás de mim para ser atendida que antes de mim. Puxa, sabe que isso me deu um alívio? Acho que até esbocei um sorrisinho, que se desmanchou ao encontrar outro sorriso, vindo do cara que seria atendido, que estava na boca do caixa. Mas como tem gente sem graça nesse mundo, não? Tudo bem, eu também pisei na bola.
 
Estou na fila, ainda.Embora seja outono, está quente.Sinto sede. O garrafão de água sorri para mim:
 
-Guarda meu lugar na fila? – digo para a mulher que está atrás de mim.
 
Quando volto, alguns me olham de soslaio:

-Mocinha, está cortando fila?

-Não,eu já estava aqui, fui apenas beber água!
 
Minutos depois, um funcionário do banco começa a abordar as pessoas na fila. O homem que está em minha frente, uns cinqüenta e poucos anos, está cheio de contas que podem ser pagas no caixa eletrônico. Meu sorriso volta.Penso: “um a menos”, que bom!"

-Prefiro aguardar na fila mesmo – diz o senhor enfileirado – não estou com pressa!

Por que será que ele não perguntou se euzinha estava com pressa?
 
Minha vez de ser atendida chega.A moça do caixa está cabisbaixa, contando, separando umas notas na gaveta.Engasgo com a saliva e tusso, sem querer.Ela entede o meu ruído como uma indireta para ela:
 
-A mocinha não pode esperar um minuto? Já vou atendê-la!

-Ei, eu não sou mocinha, não, viu? Me respeita!

Em casa, dou uma olhada na dispensa para encontrar uma bolachinha para levar para o trabalho.Encontro uma lata de leite moça:

- Hoje eu vou fazer pudim de leite para o meu marido.
 
 

(Maria Fernandes Shu - 06 de maio de 2009)
 
Maria SHU
Enviado por Maria SHU em 06/05/2009
Reeditado em 06/05/2009
Código do texto: T1579286
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