Imagine a cena

Imagine a cena: uma jovem mãe aflita leva seu filho que está ardendo em febre, tosse sem parar, tudo que come põe para fora. Todos os métodos caseiros já foram usados, mas em vão. Até fez uso de xarope por recomendação de um conceituado farmacêutico, mas a cada dia o mal aumentava.

O menino desfiava a olhos vistos. Vai até um Posto de Saúde. A recepcionista está muito ocupada: conversa com uma colega. Aquela mãe espera, mas volta à recepção, pede atenção e recebe como resposta uma repreensão.

Entra gente, sai gente e àquela mãe submissa teme reclamar e passar vergonha como da outra vez.

Mas o menino vai piorando. De longe avista o esposo, ela levanta com o menino prostrado e vai ao seu encontro. Chorando, conta que não teve nenhum atendimento, nem sabe se vai ser atendida...

Pegam o carro, partem para um hospital numa outra cidade. Lá chegando precisam pagar R$ 7,00 (sete reais) pelo cartão, e ainda ouve da recepcionista que o menino só seria atendido se tivesse com a temperatura acima dos 39º.

Pôde entrar. Ali mais uma vez teve que esperar. Mas sentiu um alívio às pessoas que entravam não demoravam nem cinco minutos. A consulta realmente era rápida. Ela fica só. É a última da fila.

Ouve uma voz arrogante mandando entrar. A jovem mãe continua sentada, sem ação olha para o longo corredor, não tem quem lhe oriente. Vai até a recepção, está vazia. É hora de almoço.

Volta para o lugar onde antes estivera sentada e ouve novamente a voz:

- O PRÓXIMO!

Ela empurra a porta devagarinho, tem o coração perto da goela; entra na ponta dos pés. Percebe que o médico está sentado numa rica poltrona, tem porte de rei, mas seus olhos estão fixos num computador. Ele está jogando.

Ela espera. Ele não tem pressa.

Depois de um tempo deixa o jogo e põe a máscara de médico. Olha-a de alto a baixo, depois se ocupa com a criança. Em proporção que tem suas perguntas respondidas vai mudando o atendimento; percebeu que aquela mãe não é tão matuta, nem é tão xifrim.

- De onde vocês são?

- Como chegaram aqui? De Toyota ou de carro próprio?

Antes não havia leito, mas num passe de mágica apareceu uma enfermaria.

- Não é o lugar adequado para meu paciente! Diz com voz de autoridade. O enfermeiro se espreme temeroso, e sai para fazer milagre, pois ordem é ordem.

O menino realmente estava grave e precisou ficar internado. Mas uma pergunta ficou na mente daquele casal:

-E se ele (o pai) não tivesse com a chave do carro na mão, não tivesse uma aparência adequada e um linguajar melhor?

Aquele casal chegou a seguinte conclusão: Quantos que não têm chance que têm seus direitos negados por falta de um atendimento digno?

Ione Sak
Enviado por Ione Sak em 06/05/2009
Reeditado em 15/09/2009
Código do texto: T1579294
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